quarta-feira, 7 de junho de 2017

Em livro, ex-agente cubano da CIA conta 'história de fracasso' de tentativas de assassinar Fidel

'O trabalho que eu fazia era aquele que os terroristas fazem. Só não tinha esse nome', diz Antonio Veciana, que lança nos EUA o livro 'Trained to kill' ('Treinado para matar'), sobre tentativas frustradas de assassinar Fidel Castro

Antonio Veciana, um cidadão cubano e ex-espião da CIA (Agência Central de Inteligência dos Estados Unidos), diz que a sua é “uma história de fracasso”, pois dedicou a vida a tentar matar Fidel Castro e desestabilizar o governo instituído após a Revolução Cubana – sem sucesso.

Aos 88 anos, Veciana, que vive em Miami, nos EUA, falou à agência de notícias AFP sobre sua história, a propósito do lançamento de seu livro “Trained to kill” (“Treinado para matar”, em tradução livre).

“O trabalho que eu fazia era aquele que os terroristas fazem. Só não tinha esse nome”, disse o ex-agente. “Eu era um terrorista improvável: era magro, asmático e cheio de inseguranças.”

Ele conta que foi recrutado em 1959 pelo agente norte-americano David Atlee Phillips, codinome “Bispo”, que o treinou em Havana para matar Fidel – que, após sobreviver a mais de 600 tentativas frustradas de assassinato, morreu em novembro do ano passado de causas naturais.

Veciana trabalhava como contador no Banco Nacional de Cuba e aprendeu a passar despercebido, planejar ações, ser inescrupuloso e não confiar em ninguém.







Antonio Veciana: 'O trabalho que eu fazia era aquele que os terroristas fazem. Só não tinha esse nome',
diz ex-agente da CIA que tentou repetidas vezes matar Fidel Castro

“A princípio, a ideia era desestabilizar”, contou, dizendo que seu trabalho era criar e espalhar informações falsas sobre supostas ações do governo cubano.

A primeira que criou foi um boato sobre uma suposta lei que permitiria que o governo retirasse os direitos legais e de custódia dos pais sobre seus filhos.

A partir desse rumor, entre 1960 e 1962 cerca de 14 mil crianças e adolescentes foram enviados por suas famílias  para os EUA, um êxodo infanto-juvenil conhecido como “Operação Peter Pan”. A operação foi apoiada pela Igreja Católica, que enviava os menores desde Cuba e os recebia em acampamentos na Flórida.

“Muitos pais e mães se encontraram com seus filhos depois, mas outros nunca mais os viram, porque morreram ou porque não conseguiram sair do país”, disse Veciana, que diz não se arrepender de seu papel na separação de milhares de famílias.

“Pode ter sido irresponsável, mas eu fiz o que fiz por convicção”, afirmou. “Estava convencido de que estava fazendo a coisa certa, e faria de novo.”

Ele fugiu para os EUA em 1961 após uma tentativa frustrada de assassinar Fidel Castro. Em Miami, ele fundou um grupo paramilitar chamado Alpha 66, que nos anos 1960 e 70 promoveu ações – cuja magnitude era “sempre exagerada”, segundo ele – contra o governo cubano.

Veciana disse ter se sentido “traído” pelo então presidente dos EUA, John F. Kennedy, que retirou o apoio norte-americano a grupos paramilitares de cubanos anticastristas na tentativa frustrada de invasão da Baía dos Porcos, em 1961.

À AFP, ele disse ter visto o ex-agente Bispo se encontrar com o ex-fuzileiro naval Lee Harvey Oswald meses antes do assassinato de Kennedy, em 1963. Oswald foi depois identificado como o atirador que matou o então presidente dos EUA em Dallas, no Texas.

Veciana tentou mais uma vez matar Fidel durante uma visita do líder cubano a Santiago do Chile – e mais uma vez falhou. Seus esforços para difamar Ernesto “Che” Guevara depois da morte do revolucionário argentino na Bolívia, em 1967, também falharam, já que Che acabou se tornando um ícone mundial da esquerda.

Ele se aposentou em 1979, após 20 anos de tentativas frustradas de derrubar Fidel e a Revolução Cubana. “Eu tento não pensar muito nisso, porque a minha história é uma história de fracassos”, disse o ex-agente à AFP.

FONTE: Opera Mundi

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