segunda-feira, 4 de maio de 2015

Reis do Agronegócio (música de Chico César, letra de Carlos Rennó)

Chico César - Reis do Agronegócio (Estúdio Showlivre)


Reis

do Agronegócio
(música

de Chico César, letra de Carlos Rennó)
Ó

donos do agrobiz, ó reis do agronegócio,
Ó

produtores de alimento com veneno,
Vocês

que aumentam todo ano sua posse,
 E

que poluem cada palmo de terreno,
E

que possuem cada qual um latifúndio,
 E

que destratam e destroem o ambiente,
 De

cada mente de vocês olhei no fundo
 E

vi o quanto cada um, no fundo, mente.
Vocês

desterram povaréus ao léu que erram,
E

não empregam tanta gente como pregam.
Vocês

não matam nem a fome que há na Terra,
Nem

alimentam tanto a gente como alegam.
É

o pequeno produtor que nos provê e os Seus deputados não protegem, como
dizem: Outra mentira de vocês, Pinóquios véios.
 Vocês

já viram como tá o seu nariz, hem?
Vocês

me dizem que o Brasil não desenvolve Sem o agrebiz feroz,
desenvolvimentista.
Mas

até hoje na verdade nunca houve Um desenvolvimento tão destrutivista.
É

o que diz aquele que vocês não ouvem, O cientista, essa voz, a da ciência.
Tampouco

a voz da consciência os comove. Vocês só ouvem algo por
conveniência.
 Para

vocês, que emitem montes de dióxido,
Para

vocês, que têm um gênio neurastênico,
Pobre

tem mais é que comer com agrotóxico,
Povo

tem mais é que comer, se tem transgênico.
 É

o que acha, é o que disse um certo dia Miss Motosserrainha do Desmatamento.

o que acho é que vocês é que deviam Diariamente só comer seu “alimento”.
Vocês

se elegem e legislam, feito cínicos, Em causa própria ou de empresa
coligada:
O

frigo, a múlti de transgene e agentes químicos, Que bancam cada deputado da
bancada.

comunista cai no lobby antiecológico Do ruralista cujo clã é um grande
clube.
Inclui

até quem é racista e homofóbico.
Vocês

abafam mas tá tudo no YouTube.
Vocês

que enxotam o que luta por justiça;
Vocês

que oprimem quem produz e que preserva;
Vocês

que pilham, assediam e cobiçam A terra indígena, o quilombo e a reserva;
Vocês

que podam e que fodem e que ferram Quem represente pela frente uma barreira,
Seja

o posseiro, o seringueiro ou o sem-terra, O extrativista, o ambientalista ou
a freira;
Vocês

que criam, matam cruelmente bois, Cujas carcaças formam um enorme lixo;
Vocês

que exterminam peixes, caracóis, Sapos e pássaros e abelhas do seu nicho;
E

que rebaixam planta, bicho e outros entes,
E

acham pobre, preto e índio “tudo” chucro:
Por

que dispensam tal desprezo a um vivente?
Por

que só prezam e só pensam no seu lucro?
Eu

vejo a liberdade dada aos que se põem Além da lei, na lista do trabalho
escravo,
E

a anistia concedida aos que destroem O verde, a vida, sem morrer com um
centavo.
Com

dor eu vejo cenas de horror tão fortes,
Tal

como eu vejo com amor a fonte linda –
E

além do monte o pôr-do-sol porque por sorte Vocês não destruíram o
horizonte...
Ainda.

Seu avião derrama a chuva de veneno Na plantação e causa a náusea violenta
E

a intoxicação “ne” adultos e pequenos – Na mãe que contamina o filho que
amamenta.
Provoca

aborto e suicídio o inseticida, Mas na mansão o fato não sensibiliza.
Vocês

já não ´tão nem aí co´aquelas vidas. Vejam como é que o Ogrobiz
desumaniza...:
Desmata

Minas, a Amazônia, Mato Grosso...;
Infecta

solo, rio, ar, lençol freático; Consome, mais do que qualquer outro
negócio,
 Um

quatrilhão de litros d´água, o que é dramático.
Por

tanto mal, do qual vocês não se redimem;
Por

tal excesso que só leva à escassez –
Por

essa seca, essa crise, esse crime, Não há maiores responsáveis que vocês.
Eu

vejo o campo de vocês ficar infértil, Num tempo um tanto longe ainda, mas
não muito;
E

eu vejo a terra de vocês restar estéril, Num tempo cada vez mais perto,
e

lhes pergunto: O que será que os seus filhos acharão de Vocês diante de um
legado tão nefasto,
 Vocês

que fazem das fazendas hoje um grande Deserto verde só de soja, cana ou
pasto?
Pelos

milhares que ontem foram e amanhã ser- Ão mortos pelo grão-negócio de vocês;
Pelos

milhares dessas vítimas de câncer, De fome e sede, e fogo e bala, e de
AVCs;
 Saibam

vocês, que ganham “cum” negócio desse Muitos milhões,
 enquanto

perdem sua alma,
Que

a mim não faria falta se vocês morressem;
Saibam

que não me causaria nenhum trauma;Que a mim não faria falta se vocês
morressem;
 Talvez

assim a terra encontrasse um pouco de calma;
Ó

donos do agrobiz,
ó

reis do agronegócio.


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