quinta-feira, 31 de dezembro de 2015

LUIZ CARLOS PRESTES: UM JOVEM MILITAR EMPENHADO NA EDUCAÇÃO DOS SEUS SUBORDINADOS

Por Anita Leocadia Prestes
 
Artigo publicado em: Germinal: Marxismo e Educação em Debate, v. 7, n. 2 (2015): História da Educação - instituições, autores e teses em tensão histórica
 
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Resumo: Neste texto, a partir das ideias de A. Gramsci sobre educação e hegemonia, aborda-se o empenho de Luiz Carlos Prestes, um jovem militar, na educação dos seus subordinados. Revela-se que Prestes, através de uma relação pedagógica, conquistara a hegemonia junto aos seus subordinados. Isso foi decisivo para a organização e a marcha da Coluna Prestes.

Palavras-chave: Educação; Hegemonia; Relação pedagógica; Luiz Carlos Prestes; Coluna Prestes.

PERSPECTIVAS EM CONFRONTO NO CAMPO DA EDUCAÇÃO: O MANIFESTO DOS PIONEIROS DA EDUCAÇÃO NOVA (1932) E O MANIFESTO DOS INSPETORES DE ENSINO DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO (1934)

 Por Marcos Cesar de Oliveira Pinheiro


Artigo publicado em: Germinal: Marxismo e Educação em Debate, v. 7, n. 2 (2015): História da Educação - instituições, autores e teses em tensão histórica

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Os anos 1930 no Brasil  ficaram  marcados  por  intensos  debates  sobre  a  realidade  nacional,  por  confrontos  sociais  significativos  e movimentos que mobilizaram diversificados setores da sociedade brasileira. No entanto, nem sempre estes confrontos ganham relevo na historiografia da educação. Apesar da profusão de estudos, a historiografia da educação se caracterizou, por muitas décadas, por privilegiar os temas do pensamento liberal, os intelectuais e o movimento da Escola Nova, as reformas educativas comandadas pelo Estado no pós-1930 e o caráter centralizador, dualista e excludente que foi impresso aos níveis de ensino e aos processos de escolarização. Isto fica muito bem explicitado no estudo comparado do Manifesto dos Pioneiros (1932) e o Manifesto dos Inspetores de Ensino do Estado do Rio de Janeiro (1934) que, conforme seu autor, Marcos Cesar de Oliveira Pinheiro, colabora para delinear as tensões entre os projetos da esquerda e dos “liberais” no campo da educação, assim como as convergências existentes entre eles e que atravessam as décadas seguintes no que diz respeito à difusão da educação popular como instrumento da modernização, da democratização do país e da responsabilidade do Estado diante dessa tarefa.

2015, o ano que não terminou: uma conversa com Virgínia Fontes





Rejane Carolina Hoeveler


No último dia 29 de dezembro de 2015, entrevistamos a professora e pesquisadora Virgínia Fontes em sua casa, no Rio de Janeiro. Ela falou sobre o balanço de 2015 e as perspectivas para as lutas sociais em 2016, entre outros temas. Confira a entrevista na íntegra.

Blog Junho – O ano de 2015 começou com manifestações da direita relativamente grandes, que foram minguando, e que foram pequenas perante a possibilidade real de impeachment da presidente Dilma. Em contraste, tivemos agora no final do ano duas importantes mobilizações que vieram pela esquerda, a luta das mulheres e a dos estudantes de São Paulo contra o fechamento de escolas. Além disso, notou-se as mobilizações capitaneadas por CUT, UNE e MST, contra o impeachment, foram maiores do que o esperado por muitos. De que forma poderíamos fazer um balanço das ruas em 2015? 

Virginia Fontes – Bom, em primeiro lugar, eu acho que o que a gente está assistindo é uma complexificação brutal das lutas sociais no Brasil, que correspondem à complexificação real da vida social brasileira. Do ponto de vista dos partidos, o que quer que a gente considere que tenha sido o papel do PT – e a análise sobre o PT, ainda está sendo aberta, vai ser longa e difícil – ele significou a chegada pela primeira vez no governo de um partido que nasce no chão de fábrica, nasce de um movimento sindical e de um movimento popular, com uma forte implantação, embora muito desigual, na classe trabalhadora em escala nacional.

Então, é evidente que o início do ano de 2015 nos assustou, com as manifestações da direita, porque temos um histórico de golpes, quarteladas, e tem também um histórico de que as nossas classes dominantes peçam o apoio estrangeiro pra golpear aqui dentro; por isso, é compreensível o temor que a gente viveu no início do ano. No entanto, o que me parece, e o balanço do ano vai mais nessa direção, é que as relações capitalistas estão muito espraiadas na sociedade brasileira, e na verdade ninguém, nenhum grupo está sabendo exatamente como lidar com isso e como enfrentar isso. Nem a direita nem a esquerda.

Tudo indica que a gente entra no próximo ano com lutas intensas, lutas complicadas, e movimentos/direções muito diversificadas. Vai ser um ano onde, eu espero, fique mais claro o corte de classe; mais claro pelo menos do que foi até aqui, porque até aqui o corte está sendo um ‘esquerda e direita’ mais ou menos genérico. Portanto, o balanço do ano é que foi um ano de muita luta, e o balanço de uma dominação capitalista que se colocou de maneira quase que incontornável nos últimos 30 anos no Brasil.

Blog Junho – A atual conjuntura parece a muitos analistas como a de fim de uma “era” ou de uma fase histórica no Brasil – seja ela chamada de lulo-petismo, lulismo, Era Lula etc. Você concorda com essa análise?

Virginia Fontes – A partir de 1990, o que a gente tem é a experiência da dominação burguesa com feição hegemônica e, portanto, com feição democrática. Não tem nem uma continuidade direta entre FHC e Lula, e nem uma ruptura entre eles, na verdade eles dois são dois momentos dessa reconfiguração da dominação burguesa no Brasil, que se organiza entre 1985 e 1995 mais ou menos, com a explosão de aparelhos privados de hegemonia, e uma tentativa burguesa de pautar o conjunto da vida, não apenas de desenhar o Estado – embora ela continue desenhando o Estado.

Então em parte a crise política é a crise de um dos partidos desse formato, e a crise de um dos partidos desse formato significa imediatamente a crise do outro, porque eles são mais ou menos complementares. Então esse é o primeiro ponto, não acredito que o PT tenha acabado seu papel na história brasileira, e provavelmente ele vai ainda cumprir papel similar ao dos partidos da social-democracia estiolados no mundo europeu, ou o dos partidos socialistas europeus que continuam fazendo um papel, digamos assim, de uma ‘esquerda a baixos teores’ – mais do que admissível para o capital – que vai fazer o jogo do capital de outra maneira. Então não tem, por enquanto, como imaginar o fim do papel do PT no cenário político brasileiro, a não ser que houvesse uma revolução, e com ela a irrupção de uma força popular, que, ela sim, varresse essa direção.

Ao mesmo tempo, o que estamos assistindo é o encolhimento dos espaços democráticos, um encolhimento visível na judicialização da política, visível pelos contratos de trabalho rebaixados, nas formas de contratação de trabalhadores inclusive no serviço público, visível na diferenciação de um serviço público para o grande capital e um serviço público para as grandes massas, rebaixamento dos direitos… em suma, é um processo dramático, que não elimina o estado de direito, mas vai acrescentando leis…

Blog Junho – Como a lei-antiterrorismo, ou a Garantia de Lei e Ordem (GLO)?

Virginia Fontes – Exatamente, como todas essas formas de criminalização das formas de luta que tenham um teor mais fortemente anti-capitalista.

Agora, esse encolhimento da democracia não acontece só no Brasil. Desgraçadamente, a gente está assistindo esse encolhimento no mundo inteiro. Se pegarmos os jornais europeus agora, veremos um crescimento de racismo na Europa, um crescimento, nas eleições, de partidos de direita; na França, estado de emergência e desde a semana passada manifestações racistas anti-árabes diárias na Córsega de uma violência impressionante. Tudo isso com um bloqueio extensíssimo dos direitos democráticos, a ponto de o próprio Partido Socialista estar dividido quanto à proposta do François Hollande e do Manuel Valls, o atual primeiro-ministro francês, de praticamente eliminar o direito à nacionalidade por direito de solo, e conservar o direito de sangue, que é a proposta da extrema-direita desde sempre. É uma situação muito tensa. Além disso, a gente ainda tem outras situações dramáticas na Europa, que não dá pra desenvolver agora, mas o fato é que mantém-se o estado de direito, mantém-se parcela das conquistas, há jogo eleitoral, mas são estreitamente controladas as políticas decorrentes de eventuais vitorias eleitorais [da esquerda], como é claramente o caso do Syrisa na Grécia e do Podemos na Espanha, e espero que não venha a ser o caso do Bloco de Esquerda em Portugal, mas sabemos que tende a ser a mesma coisa. Então nós estamos diante de uma situação política internacional extremamente complicada, e de alguma maneira o Brasil hoje faz parte desse mesmo conjunto.

Blog Junho – Esses avanços eleitorais da extrema-direita em países como a França, que você mencionou, configuram um movimento internacional de avanço da direita, um aumento de suas bases sociais? 

Virginia Fontes – Eu não sei se isso significa um aumento das bases sociais da direita. Sem dúvida alguma há um avanço da direita, da força e da capacidade organizativa da direita. Mas temos de tomar cuidado com isso, pois a burguesia, ou o poder do capital, se espraia entre isso que a gente está chamando de esquerda e direita no jogo político contemporâneo. O ciclo dessa democracia e dos partidos políticos da ‘esquerda de baixos teores’ está desgastado e corroído até a medula no plano internacional.

Ainda que a gente tenha mais pessoas votando pela direita, isso significa base social da direita? Eu não tenho certeza, acho que seria precoce afirmar isso. Porque a massa de trabalhadores hoje no mundo é muito maior que era há quarenta ou cinqüenta anos atrás. A gente tem dificuldade de entender qual é o comportamento que ela vai ter num contexto tão duro de estreitamento de direitos.

Eu diria que a grande estratégia burguesa internacional tem sido a de dividir a classe trabalhadora, inclusive a partir desses contratos – quem tem direito, quem não tem; quem é mais velho, quem é mais novo etc – mas isso tem um limite. A gente não sabe onde está o limite pra isso. Por isso acho que tem um avanço da direita sim, é inquietante e a gente tem que se inquietar. E esse avanço da direita vem por essa seqüência, estreitamento da democracia, fragmentação dos trabalhadores. Mas eu não perco de vista o fato de que as burguesias internacionais não sabem como controlar essas massas trabalhadoras nessas condições, e é aí que a gente tem de atuar.

Blog Junho – No caso do Brasil, vimos em 2015 um Congresso bastante conservador aprovando legislações como a redução da maioridade penal, a retomada do PL 4330, das terceirizações, e a tentativa de aprovar o PL 5069-2013, relacionado ao aborto. Ao mesmo tempo, a ocorrência de diversos episódios nos quais fica claro que certos setores da sociedade estão “colocando as asinhas de fora” – como, por exemplo, o recente episódio envolvendo Chico Buarque. Você concorda com a ideia de que o conservadorismo vem crescendo no Brasil? Qual seria a melhor forma de entender esse fenômeno social? 

Virginia Fontes – Eu acho que o conservadorismo vem crescendo no Brasil como vem crescendo fora; há um reforço de setores explicitamente conservadores. O que não significa que toda a burguesia se perfile aí. De novo, tem um alerta importante a ser dado aí, porque ela [a burguesia] vai oscilar entre os seus partidos da ordem; essa extrema-direita não é o partido que a burguesia quer, mas se for o partido que a burguesia precisa, ou que é obrigada a acatar, aí nós estamos de fato diante de situações proto-fascistas.

No caso brasileiro, acho que há um aumento do conservadorismo, mas também não dá pra imaginar que o Brasil era todo ‘popular’ e agora virou todo ‘conservador’… O Brasil não tem uma cara única. É uma sociedade de classes, além disso, é uma sociedade que vem de uma herança escravista, racista, brutalmente desigual, etc. Evidente que essa diversidade e essa clivagem de classes não é apresentada na mídia, então a gente fica achando que apareceu uma direita e os outros todos desapareceram, e não é assim.

Existem desigualdades regionais, mas nós vivemos uma verdadeira avalanche capitalista, nos últimos 60 anos, mas com maior ímpeto nos últimos 30 anos, e isso redesenha o conjunto das classes trabalhadoras, além de suscitar novas exigências, exigências da juventude, dos negros, mais do que legítimas, das mulheres, dos homossexuais, etc. Tudo isso é impossível de tratar unicamente com a política do tipo Bolsonaro, na base da violência e da repressão. Então, nós temos de um lado a permanência e o aval para o tratamento policialesco das favelas, pra GLO, pra criminalização de movimento social, pro assassinato, mesmo, de jovens negros das favelas e periferias; mas de outro lado temos uma população grande que hoje tem acesso a novos meios de informação, por mais precários que sejam, e que dificilmente serão reduzidas a uma condição de silêncio. A luta de classes está vivíssima nesse país! Ela pode não estar galvanizada por algum partido, pode não estar centralizada por alguma instancia sindical ou intersindical ou mesmo uma frente – até nas frentes a gente está com várias, né – porém, há uma classe trabalhadora que não tem mais como ser silenciada como há cinqüenta anos atrás.

Tem uma explicitação maior dessas tensões, inclusive do racismo de determinados setores, que nos últimos 15 anos foram obrigados a tomar mais cuidado com seu racismo explicito, seu sexismo explicito, escravismo explícito, e que de alguma maneira estão recolocando isso pra fora. Isso acontece também nos Estados Unidos, também por valores racistas e sexistas muito duros. Mas se é verdade que tem uma direita mais avançada, é verdade também que ela também tem muita dificuldade de penetrar para além de determinado alcance e de determinado tempo. E isso, no caso brasileiro, onde as desigualdades são muito grandes, torna todo o quadro muito instável, porque não tem uma força política igualitária, efetivamente socialista, que agregue o conjunto, ou pelo menos uma parte expressiva dos setores populares e dos sindicatos – embora tenhamos partidos de esquerda de boa qualidade, nomeadamente, o PSOL, o PCB e o PSTU. Então, nós temos partidos, temos movimentos sociais como o MST, MTST, a Marcha Mundial das Mulheres, temos uma quantidade de movimentos sociais de base popular gigantesca também. Na CUT e no PT ainda tem também gente de esquerda, mas com um núcleo dirigente mais acomodador do que enfrentador.

Essa instabilidade do conjunto da direção, daquilo que eu chamo da ‘pilotagem de conjunto’, é um período no qual a explicitação das posições tende a ser maior. O que vem infelizmente acontecendo é que as principais forças que ainda capitaneiam esse núcleo dos ‘partidos da ordem’, não têm piloto pra dirigir o barco em situações de crise política. Quem, que personagem? Cunha? Ninguém acredita no Cunha, nem a direita, nem a esquerda, nem a classe trabalhadora, nem a burguesia, nem a classe média – acho que nem o Cunha acredita no Cunha. [risos] Michel Temer? ‘O mordomo’, como diz o José Simão? [risos]. Dilma? Aécio? Re-Lula? Não é impossível que em algum momento uma parcela da burguesa prefira o Lula. Por conta exatamente da falta de pilotagem. Então a gente não tem um quadro formado politicamente nos grandes partidos da ordem à altura das circunstâncias, então provavelmente ficaremos queimando ainda nesse fogo, com ou sem impeachment, ao longo de 2016. Vai ser um ano duro, principalmente para a classe trabalhadora.

Blog Junho – Falando em impeachment, já é possível mapear as diferentes posições do empresariado face ao processo de impeachment da presidente Dilma? Quais você considera serem hoje as principais clivagens internas nos setores dominantes?

Virginia Fontes – A situação ainda é muito obscura, tem muita gente fazendo interpretação a priori, e eu sou capaz de entender a urgência que motiva isso, mas isso não quer dizer que sejam explicações suficientes. A própria tomada de posição da FIESP, por exemplo, pode significar tanto a posição de uma certa burguesia a favor do impeachment, quanto o enfraquecimento da burguesia paulista frente ao conjunto da burguesia na escala nacional… Internacionalmente, não tem nenhum apoio para o impeachment – pelo menos até agora. E os grandes capitais monopólicos não estão se manifestando claramente a favor no impeachment. A gente ainda tem que analisar que contradições são essas.

A situação é muito complexa, e numa entrevista curta não dá pra aprofundar, mas tem outro elemento que pode ajudar a entender, que é o fato de que, no estado de direito, a gente tem uma autonomização de certos órgãos, como o Ministério Público e a Polícia Federal. Apenas em parte, pois mesmo nessa autonomização, eles não são neutros, eles não estão fora das vinculações sociais, políticas, etc. Num quadro de hegemonia, onde as alternativas dominantes são todas alternativas dos dominantes, esse processo de autonomização que está vindo à tona na Lava Jato trouxe a incriminação de políticos de relevância – já aconteceu no governo Lula, mas agora está acontecendo numa escala muito maior – e incriminando executivos de grandes empresas brasileiras.

É preciso levar em conta que há um temor enorme de parte da burguesia dessa autonomia Polícia Federal/Ministério Público. A minha impressão é de que os grandes setores, apesar de estarem organizados, não estão afinados, e estão com medos díspares – inclusive o medo de serem atingidos por uma prática que todos eles fizeram. Ora eles acham que dando o impeachment vão poder controlar isso; ora acham que não. Eles não tem nenhuma clareza com relação a esse fenômeno.

Então se pegarmos as clivagens internas entre os grupos dominantes hoje, teremos que pegar uma seqüência de elementos que eu listaria basicamente assim: estrutura do capital e da propriedade; questão regional – origens regionais burguesas e tensões entre grandes burguesias; e o temor frente a essa certa autonomização de algumas instâncias.

E finalmente também um fator de relevância, que também tem sido pouco estudado, ou estudado de maneira unilateral, que é o seguinte: quando se expande capital pra fora, a luta passa a ser de cachorro grande. É luta inter-capitalista crescente. Nós estamos assistindo um período de tensões entre capitalistas altíssimas – visível, por exemplo, no fato de a Turquia ter derrubado um avião da Rússia, visível na questão síria, no rearmamento da China etc… os BRICS estão em um bloco que não tem propriamente uma política comum, mas o que eles querem – esta sempre foi minha interpretação e continua sendo – é um lugar na ordem do grande capital, num momento em que não tem espaço pra ‘novos’ no grande capital, e isso exacerba as tensões inter-imperialistas. O Brasil estava expandindo empresas capital-imperialistas, e, portanto, entrando numa guerra de grande porte. Com a situação da Lava-Jato, isso desestabilizou a capacidade do Estado de apoiar a expansão capital-imperialista brasileira. Petrobrás, Vale, todas elas entraram agora em crises que elas próprias provocaram. Terá o Estado brasileiro capacidade de ser um Estado burguês como os Estados Unidos, de se endividar lá em cima para garantir suas empresas capital-imperialistas? Aí a gente começa a ver que a luta de classes que está acontecendo é funda e grande…qual é o nosso papel? É salvar as multinacionais brasileiras? Ou é voltar ao cenário da internacionalização da luta de classes hoje, ter claro que a gente precisa enfrentar o ‘nosso’ capital, e os demais capital-imperialistas?

Blog Junho – E falando em Vale, ela esteve centro do maior crime ambiental do mundo em 2015…

Virginia Fontes – Pois é, o Brasil perdeu a Copa do Mundo mas ganhou a Cop21!… Nós somos o maior desastre ambiental do mundo em 2015… [A Vale é meia dona, junto com a BHP, da Samarco].

Mas voltando ao ponto da clivagem, um Estado capitalista que se pretende capital imperialista tem de conseguir uma hegemonia burguesa sob direção democrática capitalista, tem que conseguir enfrentar simultaneamente a manutenção de suas empresas multinacionais, a garantia do funcionamento de seu mercado e o apassivamento de sua classe trabalhadora. Essas três coisas ao mesmo tempo, tem como fazer? Está conseguindo fazer?

Blog Junho – Você tem estudado e orientado diversas pesquisas que analisam as formas de organização das classes dominantes no Brasil e internacionalmente. Qual a importância de estudar essas formas de atuação de classe da burguesia e quais cuidados, na sua visão, devem ser tomados nas análises marxistas das classes dominantes?

Virginia Fontes – Bem, minha vida nos últimos 15 anos foi pra isso, em primeiro lugar porque essa é a nossa tarefa. A burguesia analisa os movimentos sociais com pente fino, inclusive através dos órgãos estatais, como a ABIN e as polícias, que estão o tempo todo promovendo dados pra isso, sem falar dos aparelhos privados de hegemonia. Ademais a gente tem hoje uma coisa clara que é a penetração enorme de aparelhos privados de hegemonia das classes dominantes dentro do Estado, e o volume disso ainda é muito opaco pra nós, porque mesmo que a gente perceba a extensão disso, ainda temos poucos estudos sistemáticos; alguns estudos propõem grandes sínteses, mas ainda têm uma cara muito nacional, dos países nos quais eles emergem, e as nossas necessidades estão numa escala muito maior…

Com relação aos cuidados eu diria, em primeiro lugar, não repetir esquemas prontos, pensar a teoria antes de fazer a análise da realidade concreta, como diria o Lenin, e não simplesmente aplicar fórmulas. Sempre procurar os processos de extração de mais-valor dos trabalhadores, não esquecendo que capital é relação social de extração do mais-valor a partir do trabalho, e isso em escala nacional e internacional. E sempre apontar para as contradições intra-classe dominante tanto no âmbito interno como no âmbito externo, e na mescla deles. Sempre alerto muito para o uso genérico da categoria da financeirização, e a importância de observar as formas contemporâneas da extração e circulação de mais-valor.

Nós temos um desafio hoje na pesquisa, que é o de compreender as frações da classe dominante contemporânea, que é algo bem mais complexo do que há cem anos atrás e mesmo há cinquenta anos atrás. As frações não são sempre as mesmas, e seus interesses não são sempre iguais, então a gente não tem separado bonitinho uma burguesia comercial, uma burguesia industrial fabril, uma burguesia bancária, arrumadinhas, tudo nas gavetinhas… Em algum momento isso fez sentido, mas com certeza não faz hoje. A escala da concentração e da centralização de capitais, a proximidade e penetração entre capitais locais e estrangeiros, a forma do imperialismo contemporâneo que eu chamo de capital imperialismo, complicou isso extremamente. Esse é o nosso desafio. Não vale voltar pra posições simples, do tipo ‘tem a burguesia nacional e tem o imperialismo’, sem dizer como eles estão organizados e quais são os seus interesses naquele momento. O que justifica determinadas posições táticas não pode nunca ser pra gente uma simplificação analítica.

Nós temos a responsabilidade, como pesquisadores, como historiadores, aqueles dentre a classe trabalhadora que tiveram acesso ao conhecimento, de pesquisar de fato onde estão essas contradições e onde está a extração de valor, porque é ali onde a classe pode enfrentar o capital e incidir de maneira mais forte.

Blog Junho – No contexto atual, como ficam as organizações da esquerda socialista? Quais são os desafios colocados a ela e, na sua opinião, que preocupações a militância de esquerda deveria ter neste momento?

Virginia Fontes – A gente entra num cenário internacional da exasperação dos conflitos sociais. Quem imaginou que chegar ao capitalismo e chegar à democracia seria garantia de uma vida sossegada: bem-vindo ao mundo real! O mundo real no capitalismo é isso, tensão o tempo todo, crise o tempo todo – isso quando não tem guerra… Por enquanto, o cenário da guerra não está colocado, mas não está descartado que haja uma ‘boa guerrinha’, que sempre é uma alternativa capitalista. O armamento dos [países] capital imperialistas subalternos, por exemplo, está crescendo. Espero que não, e não estou fazendo nenhum prognóstico neste sentido, mas só lembrando que esse é o contexto internacional, e não um cenário de paz, tranqüilidade e capitalismo humanizado. A nossa mídia nos deixa muito limitados, ela não compara, não mostra o que está acontecendo, as turbulências num contexto mais amplo, então a gente fica muito voltados pra dentro, olhando pro impeachment como se fosse uma coisa muito exclusiva. A gente não pode esquecer que Portugal, por exemplo, passou um ano e meio no maior sufoco, cortou salários dos trabalhadores e ainda prendeu o ex-primeiro-ministro Sócrates, por roubo; na Grécia, na Espanha, nos Estados Unidos, as tensões são enormes, e basta lembrar do período do debate do seguro saúde com Obama…

Em suma, a gente vive um período de expansão capitalista dramática, e isso gera crises cada vez maiores. Não é porque ele se encolhe, é porque ele se expande – isso que eu acho que é terrível! E no caso brasileiro, isso mostra que hegemonia burguesa não é sinônimo de um mundo tranqüilo, com tudo funcionando perfeitamente, nem nunca foi!

O que acho essencial, como historiadora, é que a gente não se limite a interpretar a realidade de acordo com nosso desejo militante. Devemos ser rigorosamente fiéis aos nossos valores e a nossa base teórica que permitam enxergar a forma atual da dominação e da luta de classes, de maneira a preparar e formar a classe trabalhadora para enfrentamentos que vão ser, a cada dia, mais duros, mais difíceis, e com mais propaganda em cima obscurecendo os verdadeiros cernes desses enfrentamentos.

Então acho que essa é nossa tarefa é não dar sopa pra escamotear a contradição. A gente pode querer que a coisa esteja andando cor-de-rosa, mas não está. Nós temos a tarefa de preparar a classe para que a própria classe possa intervir a qualquer momento. Não é mais possível imaginar que na situação e na escala do capitalismo em que a gente está, uma direção possa decidir sozinha e que depois a ordem chegue a todos. É urgente que a gente volte à idéia do partido, à idéia do Lenin mas para além das condições da época do Lenin: o último soldado tem que saber qual é a luta, porque luta e como luta. Tem que saber tomar decisões, porque tem que ser o primeiro-general em cada momento. E se a gente não formar pra isso, vamos perder militantes, como já perdemos muito nos últimos vinte anos. Não podemos mais perder militantes assim. Precisamos garantir socialização de conhecimentos e dos nossos valores, da igualdade, da solidariedade de classe, do internacionalismo, da liberdade plena etc.

FONTE: Blog Junho 
 

quarta-feira, 30 de dezembro de 2015

Governo francês torna públicos milhares de documentos da época da Segunda Guerra

Entre os arquivos estão fichas de comunistas, judeus e membros da resistência armada; abertura foi impulsionada por pressão de pesquisadores do período

Entrou em vigor nesta segunda-feira (28/12) a determinação do governo francês de liberar o acesso ao público de centenas de milhares de documentos relativos à época da ocupação nazista na França e do governo pós-guerra. A medida prevê “a livre consulta de arquivos relativos à Segunda Guerra Mundial provenientes principalmente dos ministérios das Relações Exteriores, da Justiça e do Interior”, segundo o texto do Journal officiel, equivalente ao Diário Oficial.

Historiadores, familiares e cidadãos comuns poderão consultar arquivos legais e policiais da França, do período de 1940 a 1946


Entre os documentos estão processos de jurisdição de exceção do período Vichy (período do domínio nazista, entre 1940 e 1944) e do governo provisório (entre 1944 e 1946), papéis sobre os julgamentos de criminosos de guerra, arquivos sobre membros da resistência armada, comunistas ou judeus perseguidos sob a dominação nazista. Parte dos arquivos já era conhecida dos historiadores, mas o acesso era limitado.

Em maio deste ano, um grupo de mais de 100 pesquisadores universitários enviou uma carta ao presidente francês, François Hollande, reclamando da burocracia para conseguir acesso aos arquivos e pedindo a simplificação do acesso. Hollande se encontrou com membros do grupo e dois dias depois se comprometeu a permitir o acesso aos arquivos.

De acordo com Pascale Etiennette, chefe dos arquivos da polícia de Paris, qualquer pessoa poderá solicitar um arquivo e obtê-lo “dentro de um ou 15 minutos, apenas o tempo necessário para buscá-lo nas prateleiras”. Os arquivos se encontram dispersos em várias cidades da França.

“Não se deve acreditar que isso [medida do governo] irá dar acesso a milhões de arquivos secretos. Muitos documentos envolvidos já foram consultados por pesquisadores, mas isso vai facilitar o trabalho ao permitir superar a lentidão e os bloqueios do sistema”, disse ao jornal francês Le Monde o historiador Henry Rousso, diretor do Instituto de História do Tempo Presente e autor de trabalhos sobre o período da Segunda Guerra.

“Por conta da dificuldade de acesso a certas fontes, nós pensávamos duas vezes antes de apresentar certos assuntos aos estudantes. De agora em diante, haverá menos hesitação”, afirmou Gilles Morin, pesquisador e historiador do Centro de História Social do Século XX da Universidade Paris-I, ao Le Monde. Segundo ele, muitos franceses que pesquisavam o passado de pais e avós nesse período encontravam dificuldades burocráticas. Morin pontua que “não haverá uma revolução sobre o que já sabemos sobre a Segunda Guerra, mas finalmente teremos a possibilidade de entender diversos aspectos, como as relações entre a França e a Alemanha”.

FONTE: Opera Mundi


sábado, 26 de dezembro de 2015

Vean articulo de Claudio Katz, analisando la conyuntura politica argentina y su nuevo presidente





La “CEOcracia” en acción
 Claudio Katz[1]

Macri debutó con el duro ajuste que endulzó durante la campaña electoral. Su “sinceramiento” de la economía es la típica transferencia de ingresos a favor de los capitalistas, que tantas veces se aplicó en el país. Pretende achatar los salarios a través de la carestía para incrementar las ganancias de las grandes empresas.
La inflación comenzó a trepar a principios de noviembre y ya encareció significativamente la canasta básica de alimentos. Esta escalada desmintió todos los presagios de estabilidad por incrementos previos de los precios. Los aumentos se dispararon antes y después de la devaluación.
Esta vez los llamados oficiales a la “responsabilidad” de los empresarios asumieron un tono particularmente cínico. Los remarcadores ahora son ministros y los gerentes del sector privado (denominados CEOs) controlan la administración pública. El manejo del país por sus propios dueños se ha corroborado en un debut inflacionario.
La complicidad entre funcionarios y capitalistas ha diluido todas las sugerencias de retrotraer los precios a noviembre. El sistema de “precios cuidados” sólo persiste como una formalidad para disimular la carestía. Ninguna sanción a los responsables de la inflación es evaluada por un gabinete que endiosa al mercado.

EL PROPÓSITO DE LA DEVALUACIÓN

El objetivo del ajuste es provocar una fuerte caída de los salarios durante el verano. De esta forma se licuarían los ingresos populares antes de las paritarias. Para eso maquillan la evolución de los precios con pretextos de baches estadísticos en el INDEC.
La imposición de un gran retraso salarial durante el primer semestre anticipa las podas adicionales que intentará el futuro Pacto Social. Ese convenio fijará metas decrecientes de inflación solventadas por los trabajadores.
Los economistas del establishment aplauden el curso actual, pero subrayan que la “consistencia” del plan depende de la confiscación del salario. Estiman que esa amputación es indispensable para superar el fracaso de la última devaluación (diciembre del 2013).
En esa oportunidad la brusca alteración de la paridad cambiaria se trasladó a precios y salarios, neutralizando las ganancias de exportadores y financistas. Para evitar este resultado los hombres del PRO esperan que la inflación del 2016 (¿40%?) sobrepase ampliamente a los incrementos de sueldos (¿28%?).
Con esa finalidad promueven mayor contracción monetaria y recorte fiscal. Suponen que esas restricciones afectarán el nivel de actividad, ocupación o precariedad laboral y debilitarán la resistencia de los trabajadores.
A diferencia del 2013 la derecha maneja ahora el gobierno y está empeñada en una batalla frontal contra los asalariados. Pero actúa al final de un ciclo de recomposición del empleo, el ingreso y el nivel de organización de los trabajadores. No cuenta con el escenario de colapso que en el 2001permitió una mega-devaluación, sin transferencias a los precios y salarios.
La primera confrontación para imponer el ajuste se dirime en el bono de compensación que reclaman los sindicatos (5000 pesos). Macri rechazó esa petición y sólo otorgó una irrisoria bonificación en la asignación universal (400 pesos). Luego de entregar fortunas a los empresarios desconoce una demanda básica de los asalariados. Afirma que únicamente homologará las sumas negociadas por cada gremio en el sector privado, como si la inflación exceptuara a los empleados públicos.
Mauricio pretende que cada segmento de los trabajadores se arregle por su cuenta. Tiene tan incorporada la ideología burguesa que anuncia sin sonrojarse beneficios generalizados para los capitalistas, mientras exige tratativas segmentadas a los trabajadores.
La misma cosmovisión de niño rico transmitió Prat Gay en su presentación de la devaluación como un acto liberador. Afirmó que “oxigenará la economía”, presuponiendo que los negocios de una pequeña minoría generan bienestar para toda la colectividad. Describió luego la eliminación de “impuestos distorsivos” como un logro de la sociedad, estimando que cualquier obstáculo para los capitalistas constituye una adversidad para el pueblo.
El equipo macrista despliega presentaciones tecnocráticas del ajuste, como si estuvieran determinadas por exigencias naturales de algún dispositivo. Por eso describe los detalles operativos de la devaluación sin mencionar sus nefastas consecuencias sociales.
El PRO intenta trasladar al ámbito económico el marketing despolitizado que utilizó para ganar elecciones. Con ese estilo ya no se lamenta de la devaluación. Al contrario, la difunde como una gran noticia. Mauricio devalúa con buena onda y alegría, mientras sus funcionarios imaginan las sonrisas de los millonarios. Los sufrimientos de los desposeídos no figuran en sus agendas.

LOS GANADORES DEL AJUSTE

El agro-negocio ha sido el principal favorecido por la simultánea decisión de devaluar y reducir las retenciones. Ese sector incrementa sus ganancias inmediatas en un 50-90% y se embolsa 3.700 millones de dólares, que valdrán un 40% más en moneda nacional.
Las compañías cerealeras apostaron a este desenlace demorando durante meses la liquidación de exportaciones. También los grandes propietarios y contratistas agrarios incrementan sus fortunas, con precios internos que ascienden al compás de la rentabilidad externa.
Todos fijan sus cotizaciones comparando con lo obtenido por los exportadores. Por esta razón la carne, la harina, el pollo y las legumbres se disparan al mismo ritmo. La soja arrastra el encarecimiento de los productos que compiten por el uso de la misma tierra.
Ese encadenamiento torna particularmente nefasta la reducción de las retenciones. La disminución de ese impuesto reconecta los precios locales de los alimentos con su cotización internacional y desprotege al consumidor argentino. Los agro-exportadores vuelven a recuperar preeminencia y ya iniciaron su venganza por la resolución 125. La renta que el estado se apropiaba desde el 2002 retorna al campo.
Macri intenta privilegiar al agro resucitando el imaginario liberal de las “ventajas comparativas”. Supone que el país progresará afianzando su perfil de exportador de productos básicos. Pretende incluso actualizar esa inserción internacional convirtiendo al “granero del mundo” en un “supermercado del planeta”.
Pero el subdesarrollo estructural que históricamente generó la performance primarizada de nuestra economía se acentuará vendiendo nutrientes más elaboradas. Ese modelo no crea empleo, desalienta la inversión industrial, acrecienta las inundaciones y expande el deterioro ambiental.
Con la mira puesta en el florecimiento del agro-negocio, Macri abre las puertas a los tratados del libre comercio con Asia, Europa y la Alianza del Pacífico. Ensaya esa posibilidad a partir de una nueva asociación con Brasil.
            Pero el ajuste en curso también favorece a los bancos. Obtienen grandes lucros con la intermediación de los créditos negociados para sostener la devaluación. Ganarán fortunas si se concreta el endeudamiento por 20.000 millones de dólares para apuntalar las reservas y controlar la nueva banda cambiaria.
Esos préstamos provienen de bancos extranjeros (Repo), entidades chinas (yuanes convertibles) y financieras argentinas que administran la fuga de capitales (reingreso de dólares sin encajes).
La gran hipoteca en gestación es presentada como un signo de “confianza” en el país. Se repite el relato que siempre utilizaron los banqueros para vaciar a la Argentina. Hasta ahora ninguno de los créditos presenta finalidades productivas. Sólo solventan gastos corrientes y estabilizan la cotización del dólar.
Los bancos se disponen a lucrar, además, con las altísimas tasas de interés (38-40%) que introdujo el gobierno para contener cualquier corrida hacia el dólar. De esta forma resurge la conocida bicicleta de ingresar capitales golondrinas, que retomarán vuelo cuando se agote el casino.
            Para recibir un fuerte respaldo inicial de la City, Prat Gay y Stuzzeneger convalidaron también el desfalco de los seguros de cambio que realizó la administración saliente del Banco Central (enormes pagos a una cotización ridícula del dólar). El nuevo equipo negoció límites a la emisión de pesos que exigía ese contrato, pero aseguró a los bancos todos los lucros de la transacción.
            Los financistas obtuvieron además un trofeo largamente esperado: la recuperación del Banco Central. Se disponen a retomar el directorio de esa entidad con el insólito disfraz de asegurar su “independencia”. Su próximo negocio será el arreglo con buitres.
Esa intermediación podría incluir compras totales o parciales de los pasivos en litigio, a cambio de comisiones adicionales o atribuciones para gestionar nuevos créditos. Las versiones sobre un préstamo directo del tesoro estadounidense ilustran el interés internacional por una operación, que seguramente incluirá inspecciones del FMI.
            El tercer beneficiario del plan es la burguesía industrial exportadora. Obtuvo la reducción de las retenciones y la eliminación de regulaciones que restringían las importaciones de insumos (DJAI). Comenzará a recibir los dólares demorados por esas adquisiciones y negocia un bono para zanjar las compras impagas y las utilidades no giradas al exterior.
            La principal promesa para ese sector es la implementación de una política estatal anti-obrera, que el macrismo disfraza con llamados al “orden, la productividad y la disciplina” laboral. El nuevo gobierno de “CEOcratas” incluye numerosos expertos en incrementar los ritmos de trabajo, organizar despidos y perseguir activistas. Los gerentes de recursos humanos ahora comandan las oficinas gubernamentales y el nombramiento de un ministro con apellido Triacca es un símbolo de lo que se viene.
También las empresas contratistas de servicios públicos recibirán su tajada. Los tarifazos se preparan con la declaración de la emergencia energética y la emisión mensual de facturas. Esos incrementos apuntan a recomponer la caja de las compañías. Ganaron fortunas con las privatizaciones y preservaron sus contratos durante la última década de subsidio estatal.
Ahora reaparecen los argumentos de la sintonía fina -que el kirchnerismo difundió pero no instrumentó- para justificar los aumentos del gas y la electricidad. Se afirma que los ricos malgastan energía calentando sus piscinas y que la clase alta paga cuentas irrisorias por el aire acondicionado. Esos abusos se corregirían con un simple recargo en el servicio. Pero el verdadero objetivo de esas descripciones es penalizar a toda población.
Lo mismo ocurre con las tarifas vigentes en el Interior. Como ciertamente son más elevadas habría abaratarlas, en lugar de encarecer las cuentas de los usuarios bonaerenses.
El gerente de Shell que ahora administra la energía del país tiene la mira puesta en asegurar precios del combustible que actualmente duplican la cotización internacional. Con esos números los usuarios no sólo solventan los beneficios de las compañías petroleras. También se impide cualquier reconversión estructural a un patrón de energía eólica y solar. El nuevo equipo ya decidió profundizar el sendero de Galluccio, que ha manejado YPF como una empresa privada con turbios contratos secretos con Chevron.
            Macri ha diseñado un plan para toda la clase capitalista. Esa intención se verifica en la significativa ampliación del blanqueo. Los evasores del fisco -que el kirchnerismo indultó en sucesivas oportunidades- ahora tendrán otra posibilidad para transparentar sus negocios sin pasar por la AFIP.

TENSIONES Y SOSTÉN POLÍTICO

Los neoliberales están de fiesta. Pero la lluvia de beneficios que reparte el macrismo alimenta graves problemas. El conflicto más previsible se avizora con la recesión. El combo de inflación-devaluación y tarifazos induce fuertes tendencias contractivas en el próximo cuatrimestre.
Si el incremento de las tasas de interés para contener el dólar perdura, la recesión alcanzará porcentuales significativos. El encarecimiento del crédito no sólo afecta la producción corriente. También impacta sobre consumos más bancarizados y dependientes de las cuotas.
            A pesar de la gran devaluación es improbable que las exportaciones puedan compensar la contracción del poder adquisitivo. El escenario externo se ha tornado muy adverso por la retracción imperante en el principal socio (Brasil) y en el mayor cliente (China) del país. Además, el aumento de las tasas de interés en Estados Unidos genera una fuerte competencia por la captación de capitales sobrantes.
Por esta razón es incierta la llegada de las inversiones que promete Macri. Un aluvión de divisas financieras debería compensar el decreciente ingreso de dólares comerciales, que acompaña al fin del superciclo de las materias primas. El 2015 cierra con un desplome del superávit comercial y como la soja ya no cotiza a 600 dólares se endurecen las disputas por preservar los mercados de otras exportaciones.
Los librecambistas del PRO podrían negociar la continuidad de esas ventas, ofreciendo la apertura del mercado argentino a los industriales foráneos. Macri mantiene un cuidadoso silencio frente a este tema, sabiendo cuán vivo está el recuerdo de la invasión importadora de los 90. Ya hay algunos tanteos para autorizar compras de bienes finales, que pueden devastar en tiempo récord al vulnerable aparato industrial del país.
            Tensiones mucho más inmediatas se avecinan en el terreno fiscal. Mauricio asume con un déficit de 7 puntos del PBI y numerosas provincias sin fondos propios para pagar los sueldos. Todas las medidas que anunció incrementan el agujero de las cuentas públicas. Redujo drásticamente las retenciones sin explicar cómo compensará ese des-financiamiento del sector público. Sus economistas preparan tarifazos para cubrir ese bache y diseñan una brutal cirugía de gastos sociales, sueldos y jubilaciones del sector público.
El objetivo estratégico de Macri es reiniciar un curso neoliberal con mayor monitoreo estatal, para diluir la impronta neo-desarrollista de la última década. Su reivindicación de Frondizi y la presencia de un nieto de Frigerio en el gabinete sólo apuntan a resucitar el imaginario de crecimiento. Desecha por completo cualquier prioridad de desenvolvimiento industrial.
La viabilidad de su programa suscita incontables especulaciones. Por el momento sólo cabe registrar la evidencia de un ajuste solventado con endeudamiento. Necesitará un fuerte apoyo político para sostener un esquema anti-popular, que precipitará divisiones en las clases dominantes.
Frente a esas perspectivas Macri expande alianzas políticas y asegura su control del estado. Ocupa todos los espacios, coloca funcionarios aptos para la contra-reforma y presiona por los descabezamientos pendientes en sectores de la justicia y los medios de comunicación.
El nuevo presidente ya comenzó a gobernar por decreto vulnerando sus convocatorias a la concertación republicana. Intentó designar los auto-objetados “jueces macristas” en dos cargos vacantes de la Corte Suprema, sabiendo que necesita tribunales afines para bloquear amparos contra los ajustes.
            También busca impunidad mediática para reducir la visibilidad de las protestas. Intervino el AFSCA desconociendo en forma grosera la autonomía de ese organismo. Pretende sepultar la ley de medios a cambio de coberturas favorables por parte de Clarín y La Nación. En lugar del prometido pluralismo de voces se apresta a hegemonizar la pantalla con relatos oficialistas, manipulación de la información y pasatismo de contenidos.
Pero la solidez de su gobierno depende de los acuerdos que alcance con los gobernadores, el Massismo y el Justicialismo en el Congreso. Macri negocia las leyes del ajuste con la gran lapicera que define los cheques y las designaciones. Mientras repite frases huecas sobre el consenso, intenta emular el modelo mexicano de turbias coaliciones parlamentarias. Ya instrumentó durante varios años ese tipo de contubernios en la Legislatura porteña y se apresta a reproducirlos en la Provincia de Buenos Aires.  
Como los principales conflictos se dirimirán en las calles, Mauricio también prepara la criminalización de la protesta. Apaleó a los trabajadores de Cresta Roja, ensayó un frustrado envío de gendarmes a Jujuy y ultima los detalles de un protocolo para arremeter contra los piquetes. El mismo presidente que reclama la liberación del organizador de las guarimbas criminales en Venezuela hace la vista gorda frente al rebrote fascistoide de sus allegados en Mar del Plata.
Afortunadamente Macri ya afrontó sus primeros disgustos. Debió retroceder en el nombramiento de funcionarios derechistas (Ávila, Manfroni) y pospuso la designación de sus candidatos a la Corte. Tuvo que ratificar, además, la continuidad de los juicios a los genocidas, ante la contundente reacción de los periodistas contra un editorial pro-indulto del diario La Nación.
El PRO multiplicará las agresiones sociales antes del gran test de la paritaria docente. Tramita especialmente la complicidad de la burocracia sindical con ofrecimientos de continuado manejo de las obras sociales. Con cada jerarca discute alguna prebenda específica. Moyano es su principal interlocutor, por ejemplo, en el negocio de la basura.
La pantalla de estos contubernios es el pequeño alivio dispuesto en los pagos del impuesto a las ganancias, que tributan los trabajadores de mayores ingresos. Ese desahogo no alcanza a la inmensa mayoría de los asalariados y es poco significativo para los afectados por esa carga.

DOS RESPONSABLES

El atropello económico en curso se desenvuelve en medio de un gran juego del culpable que marea a la población. Macristas y kirchneristas se acusan mutuamente de provocar el ajuste. Por un lado, los economistas del PRO afirman que adoptan duras medidas para subsanar la “herencia recibida”. Por otra parte, los ex funcionarios de CFK proclaman que “la economía estaba bien” y sólo requería algunas “correcciones graduales”. Los dos relatos son ficticios y ocultan la aplicación de un remedio regresivo para los desequilibrios que potenció la era K.
El carácter artificial de esa controversia es muy visible en las interpretaciones de la inflación. Prat Gay afirma que el gobierno precedente toleró subas de precios para ensuciarle la cancha. Los allegados de Kiciloff responden que no podían contener incrementos precipitados por los anuncios de devaluación. Uno dice que permitieron los aumentos por desidia y el otro afirma que carecía de autoridad para actuar. En medio de esta discusión los capitalistas remarcan exentos de culpa.
            Lo mismo ocurre con la devaluación. Macri sostiene que “nos dejaron economías regionales colapsadas” y los kirchneristas lo acusan de devaluar “para abaratar salarios”. Lo cierto es que el PRO transfiere ingresos a los acaudalados y que CFK atrasó adrede el tipo de cambio, para trasladarle el ajuste a su sucesor.
Macri también proclama que contrae deuda para atenuar los desbalances de un “Banco Central sin reservas”. En cambio los seguidores de CFK denuncian la hipoteca en formación para una “economía desendeudada”. Lo cierto es que el PRO trabaja para los financistas, frente a la descapitalización provocada por los pagos de la deuda que hicieron sus antecesores.
En medio de estas polémicas el macrismo encarece el crédito, afirmando que debe absorber la montaña de pesos emitida por el kirchnerismo. Con ese argumento oculta las gravosas consecuencias recesivas de su giro monetarista. Los K contrastan ese viraje con su promoción del consumo. Pero maquillan la inconsistencia de esa expansión, en un contexto de fugas de capital e inflación descontrolada.
            Las contraposiciones entre macristas y kirchneristas enturbian todos los debates sobre el ajuste. Para esclarecer el nuevo escenario hay que impugnar tanto la arremetida neoliberal como los fracasos del progresismo.
La crítica al nuevo gobierno no puede posponerse con expectativas de lo que vendrá. Es ingenuo suponer que Macri “recién comienza” y merece un tiempo de espera. Está rodeado de funcionarios de los 90 y hombres del establishment que siempre han manejado el poder económico. La libertad de acción que logren será proporcional al daño que sufrirá la población.
            Pero las fantasías que despliegan los economistas K sobre su gestión son igualmente insostenibles. Todos los desaciertos de esa experiencia volverán a repetirse si se elude un balance de lo ocurrido. Resulta esencial debatir el desemboque conservador que condujo a la convergencia con Scioli en un programa de devaluación, aumento de tarifas y arreglo con los buitres.
El modelo de la última década acentuó los desequilibrios estructurales del capitalismo argentino. Mantuvo una política impositiva regresiva, afianzó la primarización sojera, agravó el extractivismo minero-petrolero y perpetuó la estructura industrial concentrada. Otorgó, además, grandes subvenciones a los “capitalistas amigos” (Cirigliano, Báez, dueños de Cresta Roja) que impidieron modificar los pilares de la desigualdad social.
            Es imprescindible romper el corset de dos alternativas capitalistas como único programa para la Argentina. Si sólo hay campanas neoliberales y neo-desarrollistas con disputas entre ortodoxos y heterodoxos, el país está condenado a un recambio cíclico de unos por otros. Construir una economía productiva al servicio de las mayorías populares exige transitar por otro camino.
                                                                                                                      26-12-2015


[1] Economista, investigador del CONICET, profesor de la UBA, miembro del EDI. Su página web es: www.lahaine.org/katz