sábado, 30 de agosto de 2014

O Cavaleiro da Esperança, Portinari e o menino Roberto


UMA CASA NO COSME VELHO

A mãe disse: “Vai lá, filho!”
Subiu a ladeira do Cosme Velho,
parou no número 343.
Era a casa de Portinari,
imponente, no ano de 1948.
O menino tinha dez anos.

Portinari, no alto da escada,
com a palheta e  o pincel nas mãos,
pintava o Painel de Tiradentes,
que ocupava três paredes do aposento.
A quarta era de vidro transparente
como a alma do pintor.

O olhar do menino, puro espanto.
De repente se fixou nos pés,
pés enormes, pintados na tela.
Por que pés tão grandes? Indagou.
É a imagem de um lavrador,
inchados de tanto trabalho e dor.

Deteve-se na figura que pintava:
a corda no pescoço de Tiradentes.
Perguntou: “Não acha parecido com seu tio,
o Cavaleiro da Esperança, minha inspiração?
A Coluna Prestes e a Inconfidência estão na minha mente.
Ambas lutaram pelo nosso país.”


Cada tempo é um momento
e este ficou na memória
do menino diante do monumento,
gravado também na História,
como o episódio da Inconfidência Mineira,
feito por este pintor do povo brasileiro.
(Como Tiradentes feito Prestes
na  poética do pintor do Cosme Velho.)


Pronto, o Painel foi para Cataguases,
no estado de Minas Gerais.
Hoje, está numa posição de destaque
no Memorial da América Latina.
Este pintor que colocava na pintura a poesia
adorava o bairro em que vivia.
Aprendemos com a palheta de Portinari
as várias cores da liberdade.

Nota: Este episódio é verídico. Aconteceu com meu
marido, Roberto Nicolsky, sobrinho de Luiz Carlos Prestes.

Sylvia Grabois (agosto de 2014)



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