segunda-feira, 4 de agosto de 2014

Abelardo da Hora: 90 anos de luta e arte


Com ateliê funcionando em casa, Abelardo da Hora tem obras espalhadas por toda a residência.


Escultor, desenhista, ceramista, gravador e poeta, Abelardo da Hora é um pernambucano apaixonado pelas artes. Aos 90 anos, completados na última quinta-feira, 31/7, ele não pensa em parar de trabalhar no ateliê que funciona em sua casa, na Rua do Sossego, no bairro da Boa Vista, no  centro do Recife.


Os temas populares sempre atraíram o artista. O frevo e o maracatu, a cultura dos terreiros, assim como a fome e as dificuldades do povo. “Eu morei ali na Iputinga. O Engenho do Meio estava terminando de moer [a safra de cana]. Vim do meio de camponeses e trabalhadores de engenho, eu vivi nesse ambiente, é a cultura do povo, o trabalho do povo”, explica Abelardo, que fez ensino técnico em artes decorativas.


Abelardo da Hora e Marcos Cesar na casa do artista no bairro da Boa Vista, em Recife. Julho de 2010.


O Abelardo da Hora artista era também político - integrou o Partido Comunista (PCB) a partir do fim da década de 1940. “Fui secretário de agitação e propaganda do partido. Fui preso mais de 70 vezes. Umas 30 foram somente na época da campanha a favor do monopólio estatal do petróleo. Eu terminava o discurso e já tinha a polícia me esperando”, recorda.
Como secretário de Parques e Jardins do governo de Miguel Arraes, foi responsável pela criação do Movimento de Cultura Popular, junto a outras figuras importantes do meio artístico da época. “Depois do Ateliê Coletivo, eu já tinha um sonho de fazer algo como uma Universidade de Belas Artes”, recorda, lembrando que o Sítio da Trindade abrigou a sede do movimento.
Preso político na ditadura - foi detido logo que o regime foi instaurado -, chegou a ser questionado se ganhara muito dinheiro com as obras que estão em praças e parques do Recife. “Eu disse ao coronel Ibiapina: aquilo tudinho foi presente que dei à prefeitura, dei mesmo. Ele perguntou qual era a mensagem oculta na Torre de Iluminação [que tinha 12 metros de altura, feita com peças que se moviam com o vento], que era uma obra que ficava na Praça da Torre. Eu disse que aquilo era o vento e disse ‘só se o senhor quiser mandar prender o vento’. Ele não gostou muito, não”,  recorda. Abelardo passou um ano preso.

A torre acabou demolida durante o regime militar e, agora, Abelardo espera poder ver a obra ser reerguida. “O egoísmo é muito grande. Fui preso por lutar pelo povo, contra a miséria da população. Esse foi meu único crime. Sempre fui uma pessoa muito querida, principalmente pelas mulheres”, conta o artista, 

As mulheres, por sinal, sempre foram uma de suas paixões. Na casa em que mora na Rua do Sossego, reproduções de peças que fez e pelas quais foi premiado se misturam às esculturas e trabalhos que reverenciam as mulheres. “Não seríamos nada sem as mulheres, não existiríamos”, diz o artista, guiando a equipe do G1 por um 'tour' junto às obras.


Em 2010, o artista e comunista Abelardo da Hora mandou uma mensagem ao Jornal A Verdade sobre o papel da mídia alternativa e independente. 
Assista aqui: 


Parte 1 Fala Abelardo da Hora 50 anos MCP 1 SDV 1732



Parte 2 Fala Abelardo da Hora 2 50 anos MCP 1 SDV 1733


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