sábado, 30 de março de 2013

Dossiê: O golpe de 1964

O blog MARXISMO21 divulga um conjunto de materiais (artigos, documentos, trabalhos acadêmicos, vídeos, filmes etc.) que discute a natureza, o significado e as razões do golpe civil-militar de 1964. Passados quase 50 anos desse evento, nada há a comemorar. O blog – que numa futura edição deverá examinar o período da ditadura militar – busca contribuir para um conhecimento crítico da conjuntura político-social de 1964 e também para lembrar que as lutas pelo “direito à justiça” e pelo “direito à verdade” não podem ser relegadas ou subestimadas pelos democratas progressistas e socialistas no Brasil. Enquanto não for feita justiça às vítimas da violência do Estado e a verdade sobre o golpe e a ditadura militar não for conhecida pelo conjunto da sociedade, a democracia política no Brasil não será sólida e consistente.

Significado, natureza e polêmicas em torno  do golpe


Versões e controvérsias sobre o golpe de 1964, Carlos Fico acesso
Governo Goulart e o golpe de 1964: memória e historiografia, Lucilia Neves Delgado acesso
O golpe militar de 1964, L.A. Moniz Bandeira acesso
1964: o golpe contra as reformas e a democracia, Caio N. de Toledo acesso
O governo Goulart e o debate historiográfico, Marcelo Badaró acesso
O golpe de 1964: debatendo discursos políticos e historiográficos, Rafael Lameira e Diorge Konrad acesso
1964: as falácias do revisionismo, Caio N. de Toledo acesso
1964: polêmica com tendências da historiografia, Demian Melo acesso
1964: balanço da historiografia sobre o golpe de 1964, Marcos Napolitano acesso
As causas políticas da vitória dos golpistas, J. Quartim de Moraes acesso
N. Werneck Sodré: debatendo o golpe e o ISEB, Dênis de Moraes acesso

A conjuntura do golpe: atores, lutas sociais e político-ideológicas


Acumulação capitalista e o golpe de 1964, Nildo Viana acesso
Golpe de 1964: militares brasileiros e o empresariado nacional e norte-americano, Martina Spohr acesso
A participação dos EUA no golpe de 1964, J. Green e A. Jones acesso
O papel dos EUA no golpe de 1964, R. Rodrigo acesso
IPES e IBAD na conjuntura do golpe de 1964, Bruna Pastore acesso
A luta ideológica no pré-1964: IPES e IBAD, Caio N. de Toledo acesso
Ação política do catolicismo conservador no pré-1964, Adriano Codato e Marcus de Oliveira acesso
A ação da OAB no golpe de 1964, Marcos Leme de Mattos acesso
Representações do golpe na mídia, Flávia Birolli acesso
Imprensa, jornalistas e o golpe de 1964, João Amado acesso
Jornais paulistas apoiaram o golpe, Luiz Antônio Dias  acesso
As manchetes da imprensa no golpe de 1964, CartaMaior acesso
Dossiê: “1964: Cultura e Poder”, Revista DH, PUC-SP acesso
Artistas e intelectuais nos anos 1960, Marcelo Ridenti acesso
Apoio e resistência ao golpe em Santa Maria (RS), Diorge Konrad acesso
O golpe de 1964 visto pelo humor crítico, Dislane Moraes acesso
O golpe nos livros didáticos, Mateus Pereza e Andreza Pereza acesso
“Era possível abortar o golpe!”, ex-Brig. Rui Moreira Lima acesso 
Carta de Florestan Fernandes a um militar (9/1964) acesso 
Réquiem para um aniversário, Ruy Guerra acesso

sexta-feira, 29 de março de 2013

Gramsci e as lutas políticas

Para Cristina Bezerra, professora da UFJF e especialista na obra do revolucionário italiano, pensamento de Gramsci contribui para apontar as batalhas que a classe trabalhadora deve fazer no campo das ideias

Pedro Carrano
de Vitória (ES)

“Gramsci coloca que se a hegemonia é um dos elementos-chave para a luta política, para a de classes, ou seja, a classe que quer se tornar dirigente precisa alcançar hegemonia. Então, ela tem diferentes batalhas a serem travadas que não se limitam à esfera econômica, mas que se ampliam para a esfera política. Nesse sentido, existe uma batalha cultural a ser travada”, afirma Cristina Bezerra, professora da Universidade Federal de Juiz de Fora e especialista na obra do revolucionário italiano Antonio Gramsci (1891-1937).
Cristina, no processo de pós-graduação, foi orientada por Carlos Nelson Coutinho, um dos principais responsáveis pela introdução do pensamento de Gramsci no Brasil. Professora do curso de especialização em Economia e Desenvolvimento Agrário, uma parceria entre a Escola Nacional Florestan Fernandes e a Universidade Federal do Espírito Santo, Cristina abordou, em entrevista ao Brasil de Fato, alguns aspectos do pensamento de Gramsci que ajudam a entender o momento atual da luta de classes: a batalha no campo da cultura e das ideias, a necessidade do partido político, e a produção dos intelectuais próprios da classe trabalhadora.

Brasil de Fato – Como surgiu o seu interesse pela teoria marxista do Estado e, particularmente, pela obra de Gramsci?
Cristina Bezerra – Surgiu no momento em que fui fazer Serviço Social. A profissão tem essa dinâmica, uma profissão que está inserida na sua quase maioria em espaços públicos de atuação, então o curso de Serviço Social é um curso que aborda muito essa discussão do Estado, da sociedade civil, dos processos de organização da classe trabalhadora, na figura dos nossos usuários. No momento em que fui fazer mestrado e doutorado, meu interesse já era entender o processo da cultura na sociedade capitalista, quais são as formas que a sociedade capitalista encontra para exercer seu poder ideológico e cultural, junto a essa população. Sob a orientação do professor Carlos Nelson Coutinho, eu me aprofundei em Gramsci, e nele essa relação da cultura, da hegemonia, da parte ideológica mesmo, que não se limita a essa concepção mais restrita, ela faz esse debate diretamente com a configuração do Estado nas sociedades mais contemporâneas.








Dentro do debate da disputa de hegemonia, você comentava sobre a dificuldade de os movimentos sociais pautarem hoje sua agenda na sociedade.
 É consensual a ideia de que estamos ainda em um momento de descenso dos movimentos sociais, de descenso das massas, um momento de dificuldade de organização da classe trabalhadora, isso é reflexo do contexto contemporâneo de desenvolvimento do capitalismo. Então, esse momento de dificuldade de pautar determinadas questões é bem em razão do desenvolvimento do capitalismo que vivemos hoje.
Uma classe trabalhadora heterogênea, fragmentada, passando por um processo difícil de organização. E, ao mesmo tempo, temos problemas internos que dificultam a nossa maturidade política, vamos dizer assim: encontrar uma pauta única, levantar questões que de fato mobilizem as pessoas, mobilizem esses movimentos sociais. O principal desafio que a gente tem hoje é de encontrar essa pauta política, é conseguir colocar debates em que a sociedade se envolva de fato e que enxergue as suas contradições nesses debates. Nesse sentido, nós avançamos um pouco, a gente acumulou.
Na história da luta de classes no Brasil, temos a experiência do partido político. No entanto, o neoliberalismo gerou um retrocesso nesse processo. Gerou uma configuração mais eleitoral dos partidos, mais parlamentar. E com sérios problemas como vemos hoje no Congresso e noutros espaços de representação. Nós avançamos na construção disso, mas ainda de fato temos o desafio de construir um instrumento que, na figura do partido, recupere essa questão da pauta mais ampla e universal. A pauta dos movimentos sociais sem dúvida coloca questões importantíssimas para a nossa sociedade, mas não alcança a amplitude que o partido político tem condições de colocar.
Ainda no tema da hegemonia: são desafios para as organizações de esquerda o enfrentamento contra aparelhos como a mídia e o Poder Judiciário?
Eu gosto muito da reflexão que Gramsci faz sobre isso. Embora não tenha visto os grandes meios de comunicação, a televisão e tudo isso, Gramsci coloca que a hegemonia é um dos elementos-chave para a luta política, para a luta de classes, ou seja, a classe que quer se tornar dirigente precisa alcançar hegemonia.
Então, ela tem diferentes batalhas a serem travadas que não se limitam à esfera econômica, mas que se ampliam para a esfera política. Nesse sentido, existe uma batalha cultural a ser travada, em torno das expectativas e das possibilidades que essa sociedade tem de se compreender e enxergar suas contradições e, nesse sentido, a cultura é uma dimensão que tem essa potencialidade.
É uma dimensão que faz se reconhecer em sociedade, reconhecer suas contradições, e portanto uma batalha cultural faz parte de uma batalha por hegemonia. E daí os aparelhos ideológicos, culturais, artísticos, eles têm a função, como diria Gramsci, de criar uma nova cultura, de criar uma cultura na qual a gente se identifique como trabalhador, em que pense nas questões colocadas para a gente e ao mesmo tempo nos possibilite pensar alternativas também.
Então, penso que as lutas nesses espaços ideológicos, nos meios de comunicação, fazem parte hoje de um processo em que as pessoas são informadas e formadas também, não é só um processo de informação, mas de formação política, que precisamos garantir. É uma batalha completamente desigual, se pensamos na forma monopólica com que os meios de comunicação estão nas mãos de poucas famílias. Mas, como não é só uma questão quantitativa, de quantos meios de comunicação estão em nossas mãos, mas também qual é a qualidade desses meios, do que a gente consegue mostrar à sociedade, então acho que a gente tem uma força nesse sentido.
Dentro de uma outra categoria trabalhada por Gramsci, a universidade pode cumprir um papel na construção do intelectual orgânico?
Segundo Gramsci, todas as classes que se colocam no processo de luta política e enfrentamento, têm como desafio criar os seus intelectuais orgânicos, ou seja, aqueles que têm a tarefa de educar, organizar, dar uma unidade, uma coerência, na forma como a classe pensa sobre si mesma.
Então, esse intelectual orgânico é criado no interior do processo de luta política dessa classe. Não significa que esse intelectual orgânico nasceu nessa classe, mas ele se sente ligado a ela, ele tem as suas questões como motivações para sua luta, motivações para sua função de intelectual, então sem dúvida nenhuma esse é o desafio hoje, como as classes trabalhadoras conseguem organizar a sua luta política e nesse processo de luta criar seus próprios intelectuais.
Sem dúvida nenhuma, a universidade pode contribuir nesse processo. A universidade é um espaço de luta. É um espaço institucional, ligado ao Estado, não foi criada para as classes trabalhadoras. A história da universidade é a história da elite nesse país, foi pensada para formar intelectuais para a classe dominante. Então, a universidade hoje pode contribuir nesse processo, mas não podemos esperar que ela faça tudo, porque de fato ela tem limites na sua institucionalidade. Ela tem valores que não são os valores que a gente hoje tem no interior da classe trabalhadora, mas a universidade tem uma função essencial que é a função de levar o conhecimento que ela produz e que agrega para fora de si. Então nesse sentido podemos encontrar na Universidade um parceiro. Parcerias como essa aqui (Curso de especialização, parceria entre a UFES e a ENFF), de certa forma questionam a burocracia da universidade, os vícios acadêmicos, traz para dentro da universidade uma dinâmica dos movimentos sociais que, em si, a universidade nunca foi preparada para receber.
No Brasil convivemos com um Estado desenvolvido, mas o povo é sufocado em suas demandas mais básicas. Como podemos entender essa situação?
Florestan Fernandes fala que a condição de capitalismo dependente ela é própria desse tipo de sociedade, ela instaura essa característica. São sociedades que muitas vezes combinam o arcaico e o moderno, combinam o que há de mais atrasado, como a pobreza. Combina-se isso com desenvolvimento do capitalismo atrasado, um Estado moderno, com pautas políticas e econômicas que favorecem esses grupos dominantes. E Florestan (Fernandes) é muito rigoroso como sempre na sua obra quando ele diz que a dependência não é uma etapa dessa sociedade, ela é uma opção, um caminho encontrado essas sociedades para garantir esse desenvolvimento.
Então, não é contraditório pensar que uma sociedade avançada economicamente tem um nível social comprometido, na medida que isso está na lógica do capitalismo dependente, na lógica de um país que não colocou no seu processo de desenvolvimento o desafio da soberania nacional, da democracia, do desenvolvimento econômico. O fato de as nossas elites serem comprometidas com o grande capital internacional é que gerou essa contradição. Nesse contexto, a questão que Florestan coloca: ainda existem várias revoluções dentro da ordem para ser feitas, ainda existem reformas a serem feitas, de forma que prepare a classe trabalhadora para lutas mais significativas. (Colaboraram Adelso Rocha Lima, Sidevaldo Miranda Costa)

Anita Prestes Além da Notícia

O programa Além da Notícia, da TV Jangadeiro, que foi ao ar na última sexta-feira (22/03) entrevistou a filha dos líderes comunistas Luiz Carlos Prestes e Olga Benário. Anita Leocádia Prestes nasceu em um dos momentos mais controversos da história da humanidade. Prisões, exílio e clandestinidade fizeram parte da história dela.
Ela veio a Fortaleza para lançar um livro que conta parte da história do pai, Luiz Carlos Prestes e, antes, passou nos estúdios do programa para um bate papo sincero e corajoso. Na entrevista, Anita fala sobre polêmicas, a relação com o Partido Comunista e o envolvimento com história.


ASSISTA AO VÍDEO:
http://www.youtube.com/watch?feature=player_embedded&v=FwoZABXf0b0#at=29

sábado, 23 de março de 2013

Piso Salarial do Magistério Público e Horas de Planejamento


Cinco redes estaduais não pagam o piso dos professores


Entre as 27 redes das unidades da federação, mais da metade não cumpre o tempo de um terço da jornada do professor para atividades de planejamento fora da sala de aula



Simone Harnik



Levantamento exclusivo realizado pela revista Educação junto às secretarias de educação das 27 unidades da federação brasileiras e a sindicatos dos professores revela que cinco estados - Amapá, Amazonas, Paraíba, Santa Catarina e Rio Grande do Sul - não pagavam ao docente o valor estabelecido pela Lei do Piso Salarial do Magistério Público (Lei 11.738/2008). Os dados são referentes a dezembro de 2012, quando o vencimento básico para um docente da rede pública com formação de ensino médio era de R$ 1.451, por uma jornada de 40 horas de trabalho semanais.

A Lei do Piso também estabelece que um terço da jornada seja destinado a atividades fora da sala de aula, em planejamento pedagógico ou de atividades, por exemplo. Nesse quesito, 15 redes não cumpriam a lei federal. Em três casos (RJ, SP e TO), ocorreu uma divergência entre o sindicato da categoria e a secretaria de Educação do estado. Além disso, o Distrito Federal cumpre a lei, apenas no que se refere aos professores com jornadas de 40 horas semanais - os de 20 horas semanais têm 25% da jornada para atividades fora da sala de aula, segundo a secretaria.

Parte dos estados que não cumprem a destinação de um terço para jornada extraclasse está praticamente alcançando o que a lei federal determina. É o que acontece, por exemplo, no Acre, em Pernambuco e no Piauí, que destinam 30%, e não 33%, para atividades extraclasse. No segundo, o Estatuto do Magistério determina que esta seja a porcentagem de tempo destinada ao tempo para planejamento pedagógico e de aulas.


No Amazonas, de acordo com o sindicato da categoria, não está institucionalizado o tempo para planejamento, variando conforme o professor. A Secretaria do Estado de Educação (Seduc) do Amazonas informa que um projeto de lei será encaminhado para a Assembleia Legislativa para resolver a questão.

Na prática, a ampliação do tempo destinado à jornada extraclasse vem sendo alvo de negociações entre os sindicatos de professores e as secretarias estaduais de Educação em cada uma das unidades da federação. No Paraná, por exemplo, após negociações em dezembro, os professores deverão passar 25% do tempo fora da sala de aula.


Demanda histórica

A criação de um piso nacional único para a educação pública é uma reivindicação histórica dos professores. Mas os problemas de remuneração e valorização do docente não foram resolvidos plenamente pela lei federal. As cinco secretarias que têm vencimentos abaixo do determinado justificam que complementam a remuneração do professor (e do aposentado), cujo vencimento básico não alcança o valor estipulado.

A maior distância entre o vencimento básico e o piso, conforme o levantamento, ocorre no Rio Grande do Sul. Em valores de dezembro de 2012, o professor com formação de nível médio recebia R$ 921,75 - uma diferença de mais de R$ 500 para o piso. A secretária-adjunta de Educação do Rio Grande do Sul contesta a assertiva de que o estado não cumpre a lei e afirma que a rede gaúcha vive uma "sinuca".

Segundo ela, a carreira do magistério estadual do Rio Grande do Sul tem diferentes vencimentos básicos conforme a formação do professor e, se o reajuste baseado na arrecadação do Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e de Valorização dos Profissionais da Educação (Fundeb) fosse aplicado, a máquina administrativa não teria como arcar com a folha de pagamento.

"No Rio Grande do Sul, a diferença de remuneração entre os níveis de habilitação, sem contar tempo de serviço e promoções, entre o básico do nível médio para o básico do professor graduado chega a 85% do vencimento. Para pós-graduado, a 100%. Fizemos, no estado, uma opção de não desmontar a carreira, e de discutir judicialmente o índice de correção do piso", aponta.

No Amapá, há ainda docentes com vencimentos abaixo do piso, conforme explica a Secretaria de Estado da Educação (Seed). De acordo com e-mail da assessoria de comunicação, hoje um professor do estado inicia ganhando R$ 1.470. Os que ganham abaixo dessa remuneração são aqueles que cursaram o antigo magistério e que não fizeram graduação e especializações. O governo do Amapá afirma que, em 2012, enviou um projeto de lei para a Assembleia Legislativa propondo o pagamento do piso para os professores que ganham abaixo do valor, mas ele não foi aprovado.

Já em Santa Catarina, a Secretaria de Estado da Educação (SED) argumenta que passa por um problema formal, mas que todos os professores recebem acima do piso, após um complemento específico a fim de totalizar o que determina a lei. De acordo com a assessoria de comunicação da pasta, toda vez que vai haver ampliação de salário do docente, é necessária a aprovação de um projeto de lei na Assembleia Legislativa. Em 2012, não houve aprovação e o valor permaneceu em R$ 1.281. A secretaria afirma ainda que os aposentados também recebem o complemento, mas que é muito difícil encontrar inativos com vencimentos mínimos, porque a maioria incorporou vantagens ao longo da carreira.

Na prática, cada estado tem autonomia para elaborar o plano de carreira para os professores, que deve ser aprovado pelo Legislativo. Com isso, a lei federal é insuficiente para resolver a remuneração dos professores sozinha. Entretanto, é forte instrumento de pressão para os sindicatos, que tiveram conquistas nas negociações desde a aprovação do instrumento.

Perto do piso

Na Paraíba, o vencimento básico se encontrava, em 2012, em R$ 1.384,00 proporcionalmente à jornada de 40 horas semanais. Todos os professores recebem uma complementação variável, conforme o nível de escolaridade. Só então, o valor de R$ 1.451 era superado.


Já no Amazonas, a diferença para o cumprimento da Lei do Piso era muito pequena em 2012. O professor com nível médio tinha remuneração, em jornada de 40 horas, de 1.412,12. Como todos os docentes recebem uma gratificação de 43% em cima do vencimento básico, a situação está praticamente equacionada. Segundo a Seduc, há uma proposta para que a complementação da regência de classe seja incorporada ao salário, e a medida será encaminhada à Assembleia Legislativa.

Nada é tão simples

O Sindicato Único dos Trabalhadores em Educação de Minas Gerais (Sind-UTE/MG) acrescenta esse estado à lista dos que não cumprem a Lei do Piso - informação que é contestada pela Secretaria de Estado de Educação (SEE) de Minas. "O governo transformou toda a remuneração do professor em parcela única, que é o subsídio. O estado acabou com o vencimento básico em Minas Gerais. Acabou com as tabelas de vencimento básico ao fixar as tabelas da remuneração cheia", explica a coordenadora-geral, Beatriz Cerqueira.

Em outras palavras, acabando com o vencimento básico, o governo teria incorporado as gratificações ao salário, fazendo com que o professor não tivesse aumento em sua remuneração base. "Quando o estado fez isso, também congelou qualquer benefício vinculado à formação acadêmica ou ao tempo de serviço", diz.


Amor & Capital: A saga familiar de Karl Marx e a história de uma revolução


Em Amor & capitalMary Gabriel investiga a fundo a saga da família Marx e contextualiza o nascimento da maior revolução no pensamento moderno.

Uma narrativa épica, rica em imagens, notas e detalhes que documentam a trajetória de Karl Marx. Conheça a história de amor que o uniu a sua esposa, Jenny von Westphalen, que teve um papel decisivo na vida do pensador. Ao longo de décadas de uma vida miserável, a bela e intelectualizada Jenny apoiou Marx enquanto era construída sua obra-prima, O capital.

“Um relato magistral das vidas de Karl Marx e sua esposa Jenny, notável pela facilidade com que transita entre as esferas doméstica e política.” - Publishers Weekly


Livro busca lado "família" do pensador alemão Karl Marx


Poucas pessoas estranham tanto as frias estátuas de Karl Marx, como as do parque de Budapest, quanto a americana Mary Gabriel.

Ela passou anos trabalhando num livro que busca mostrar o que há de mais humano no intelectual alemão.

"Amor e Capital - A Saga Familiar de Karl Marx e o Nascimento de Uma Revolução" ganhará edição brasileira na segunda quinzena de março, pela editora Zahar.

Gabriel afirma que decidiu escrever o livro depois de ter lido uma reportagem sobre as duas filhas de Marx que cometeram suicídio.



Ao mergulhar nas pesquisas sobre o ambiente familiar do intelectual, no entanto, a jornalista e biógrafa se surpreendeu. Apesar das inúmeras dificuldades enfrentadas pela família Marx, encontrou no pensador o que ela sintetiza como "um pai carinhoso e esposo dedicado".

Com quase mil páginas, repletas de documentos, fotos e mapas, a obra, finalista de prêmios como o Pulitzer, descreve as idas e vindas da família entre Londres, Paris, Bruxelas e Berlim.

A autora dá destaque para o papel "decisivo" que acredita ter tido na vida de Marx a mulher do intelecutal, Jenny von Westphalen. 

AMOR E CAPITAL
AUTORA Mary Gabriel
TRADUÇÃO Alexandre Barbosa de Souza
EDITORA Zahar
QUANTO R$ 89,90 (968 págs.)




O velho Marx no século XXI



Nova tradução de "O Capital", seminário e lançamentos reforçam a importância dos trabalhos do pensador alemão para a compreensão crítica do capitalismo, especialmente em épocas de crise









Por Leonardo Cazes




Quase 150 anos depois da publicação, na Alemanha, do seu primeiro volume, “O Capital” de Karl Marx continua mobilizando debates na História, nas ciências sociais e na economia. Descrita pelo filósofo esloveno Slavoj Žižek como “a melhor descrição da dinâmica do capitalismo global” (leia entrevista abaixo), a obra seminal ganha uma nova tradução em português, de Rubens Enderle, pela Boitempo. Paralelamente, são lançados no Brasil “Para entender ‘O Capital’” (Boitempo), um guia de leitura escrito pelo geógrafo marxista David Harvey, e a biografia de Marx “Amor e capital” (Zahar), finalista do Pulitzer, da jornalista americana Mary Gabriel.

Mas por que, mais de um século depois, a obra ainda motiva novos estudos e traduções? Professores e pesquisadores concordam que, depois do ostracismo iniciado na metade da década de 1980 e que seguiu até o começo dos anos 2000, a crise econômica que eclodiu em 2008 impulsionou um retorno à explicação de Marx sobre o funcionamento do capitalismo. David Harvey, que há 40 anos dá cursos sobre “O Capital”, acompanhou as ondas de interesse dos alunos ao longo das décadas.

— Quando comecei a dar aulas, havia muito interesse dos estudantes em ler o livro. Isso diminuiu durante os anos de 1980 e 1990, mas cresceu bastante após os incidentes de 2007 e 2008 — afirma o professor, que é um dos convidados do “IV Seminário Margem Esquerda: Marx e O Capital”, promovido pela Boitempo, nos dias 22 e 23 de março em São Paulo. — Uma coisa impressionante de ensinar esse texto ao longo de todos esses anos é que “O Capital” foi escrito no século XIX, mas faz muito mais sentido agora.

Para Jorge Grespan, professor de História da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo (FFLCH/USP) e autor de “O negativo do Capital” (Expressão Popular), a teoria marxista foi descartada com muita facilidade nas duas últimas décadas do século passado. Entre as razões estão a crise do bloco soviético e dos modelos de socialismo da época e, ao mesmo tempo, um reforço da crença de que o capitalismo tinha mudado radicalmente. No entanto, para o professor, a crise atual demonstra que as mudanças não afetaram o caráter contraditório do sistema.




— O capitalismo mudou, mas não se tornou imune a crises. As mudanças que ocorreram na entrada maciça do conhecimento (como fator produtivo), a mundialização e a luta por mercados só aumentaram a virulência da crise. Agravaram o caráter contraditório do capital. Agora, o pessoal fica meio perdido, porque Marx foi descartado muito rapidamente. Esse movimento foi mundial, poucos grupos prosseguiram. Marx é atual porque o sistema continua assentado em contradições — argumenta Grespan.





Outro fator que contribuiu para o reaquecimento do campo foram as edições do projeto MEGA (Marx-Engels Gesamtausgabe), um pool de centros de pesquisa que desde o início da década de 1990 se debruça sobre os manuscritos de Marx e Engels. O objetivo é editar todas as obras de acordo com os originais deixados pelos dois, concentrados hoje na Holanda e na Rússia. O MEGA possui quatro divisões: a primeira inclui as obras de caráter político; a segunda abrange os textos econômicos; a terceira, as cartas; e a quarta, os artigos científicos.


A nova tradução da Boitempo utiliza como referência a edição alemã do projeto MEGA e tem textos de apresentação de Jacob Gorender (publicado originalmente em 1983), José Arthur Giannotti e Louis Althusser, este inédito em português. A edição será dividida em três volumes, sendo o segundo previsto para 2014 e o terceiro para 2015, e ocupa um vácuo. Alguns volumes da edição de “O Capital” publicada em 2008 pela Civilização Brasileira estão esgotados.

Michael Heinrich, integrante da equipe que trabalhou na edição dos escritos econômicos do MEGA e outro convidado do seminário promovido pela Boitempo, explica que Marx publicou apenas o primeiro volume de “O Capital” em vida e os outros dois foram editados por Engels. Mesmo este volume teve duas edições na Alemanha (uma em 1867 e outra em 1872) e uma na França, modificada pelo próprio autor. Suas obras póstumas foram muito alteradas por editores e a missão do projeto foi manter fidelidade filológica aos manuscritos. Heinrich diz que, especialmente no terceiro volume de “O Capital”, os textos originais mostraram diferenças importantes em relação aos publicados.

— Frases eram mudadas, parágrafos trocados de ordem, mas Marx não se tornou amigo do capitalismo (risos). Para uma consideração científica do marxismo, elas são significativas, como na formulação da teoria da crise e na famosa discussão sobre a tendência de queda da taxa de lucro — afirma. — Ele não analisou o capitalismo inglês do século XIX. Se fizesse isso, “O Capital” só interessaria aos historiadores como uma relíquia. Ele dissecou o que é o capitalismo. Por exemplo, Marx já falava de capital fictício no século XIX, da financeirização da economia, da transformação de capital em crédito.

Contudo, saudar o legado e a atualidade de Marx não significa uma recepção acrítica do que ele escreveu. Muito pelo contrário. Harvey cita uma carta escrita pelo próprio titulada “Por uma crítica implacável de tudo que existe”. O geógrafo conta que sempre pede aos estudantes que tenham isso em mente quando estão lendo Marx e os outros marxistas.





sexta-feira, 22 de março de 2013

Índios aceitam mudar para terreno da antiga Colônia Curupaiti, em Jacarepaguá (RJ)



Douglas Corrêa

Da Agência Brasil, no Rio



Os 22 índios que ocupavam o antigo Museu do Índio decidiram aceitar a escolha do terreno em Jacarepaguá, na antiga Colônia Curupaiti, um dos três lugares oferecidos pelo governo do Estado do Rio para o alojamento provisório e decidiram também que o Centro de Referência da Cultura Indígena será construído na mesma área.
"Isso torna tudo mais fácil, porque não teremos que esperar o presídio da Quinta da Boa Vista ser desativado para começarmos as obras do centro", disse o secretário de Assistência Social e Direitos Humanos, Zaqueu Teixeira. Em visita aos três locais oferecidos pelo Estado hoje (22) à tarde, os índios optaram pelo terreno de Jacarepaguá, com 2.000 metros quadrados, que os agradou mais por causa do trecho de matas da antiga colônia.
Os alojamentos para residência temporária terão beliches, contêiner cozinha e contêiner banheiro, sendo um feminino e outro masculino, que ficarão prontos neste sábado (23). Os índios serão transferidos do hotel que estão ocupando no centro da cidade neste domingo (24) e receberão também kits de higiene pessoal e de limpeza, água, cestas básicas, toalhas e cobertores.
Arquitetos do governo vão se reunir com os índios nos próximos dias para formatarem, em conjunto, o projeto do Centro de Referência da Cultura Indígena, que ficará na Estrada Comandante Luis Souto, no bairro do Tanque, em Jacarepaguá.
O terreno da antiga colônia ainda é ocupado por cerca de 2.000 pessoas, sendo 250 hansenianos. No local há 300 casas, onde o Estado fez a regularização fundiária, dando a emissão de posse do terreno aos moradores. O governo estadual está em fase de implantação da rede de esgoto para a construção de mais 40 casas para os antigos moradores da Colônia de Curupaiti, que residem em 20 casas geminadas no local e outros que habitam porões no terreno.
Lá, funciona também um teatro inaugurado em 1928, com capacidade para 250 lugares que precisa ser restaurado. Há ainda necessidade de recuperação da antiga cadeia da colônia. Como os hansenianos ficavam segregados, lá dentro tinha um prefeito e um xerife, eleitos pela comunidade, que organizavam a vida dos moradores. As reivindicações eram feitas ao prefeito e quem desobedecia às ordens poderia ser punido até com cadeia, determinada pelo delegado.
O Coordenador Nacional do Movimento de Reintegração das Pessoas Atingidas pela Hanseníase (Morhan), Artur Custódio, disse que o movimento atua há mais de três décadas no enfrentamento do preconceito  e do estigma ainda associado à doença, sendo um movimento que valoriza e busca a garantia dos direitos humanos. A ocasião é oportuna para uma reflexão sobre como a sociedade lida com o problema das populações historicamente excluídas.
"É afirmativa a convivência que se dará com os índios. Isso traz à tona um espaço grande que tem de ser revitalizado e preservado, como área de proteção ambiental e tombado pelo seu valor histórico para as futuras gerações", disse.
Em nota, o MPF (Ministério Público Federal) disse que irá acompanhar se o Estado cumprirá o acordo firmado com parte do grupo de indígenas que aceitou as propostas do governo, inclusive o compromisso extrajudicial de preservar o prédio [do antigo Museu do Índio] e o deslocamento das famílias para um centro de referência indígena, previsto para ser instalado em Jacarepaguá, na zona oeste do Rio.

Cabral invade a aldeia: É assim que se faz uma Copa?

Cabral invade a aldeia

Marx escreveu que "a história só se repete como tragédia ou como farsa". Taí: Cabral invadiu a Aldeia Maracanã, com suas naus cruzadistas, e expulsa seus nativos. Mas a luta vai prosseguir, e os "conquistadores" contemporâneos, mercadores dos espaços urbanos, encontrarão resistência!



Por Chico Alencar*

Não, não estamos em 1500. O fato truculento se deu há pouco, no Rio. Mais de 200 PMs, apoiados por carros blindados e helicóptero, desalojaram indígenas que ocupavam há anos o antigo Museu do Índio, no Maracanã.
O prédio público se tornara "ruína dirigida", para a prevalência de interesses da especulação imobiliária e dos negócios privados - entre eles, o assumido pelo governo do estado, de ali fazer um... estacionamento! Esse projeto nem a Fifa, argentarista como é, segurou! Graças à tenaz ocupação, o governo teve que recuar e prometeu preservar o imóvel. Mas não aceita a proposta de criar ali um Centro de Referência das Culturas Indígenas, muito menos de vê-lo ocupado por representantes de povos originários.
A Justiça injusta concedeu reintegração de posse para quem nunca zelou pelo local. E a Polícia de Cabral não cumpriu integralmente o acordo mediado com parlamentares do PSOL e um procurador da República: invadiu o prédio antes mesmo dos 10 minutos solicitados para um ritual de finalização da ocupação.
Às centenas de pessoas que apoiavam, extra-muros, a boa causa, a tropa de choque distribuiu bombas, balas de borracha, gás pimenta e prisões, perseguindo os manifestantes pela rua afora.
Com uma ânsia de bater que, entre outras anormalidades, pode refletir não apenas o despreparo, mas também as condições de trabalho impostas pelo governo cujas ordens seus soldados são tão violentamente fiéis em obedecer ("o opressor introjeta seus valores no oprimido" - Paulo Freire).
Marx escreveu que "a história só se repete como tragédia ou como farsa". Taí: Cabral invadiu a Aldeia Maracanã, com suas naus cruzadistas, e expulsa seus nativos. Mas a luta vai prosseguir, e os "conquistadores" contemporâneos, mercadores dos espaços urbanos, encontrarão resistência!

*Chico Alencar é deputado federal pelo PSOL/RJ.

Aldeia Maracanã - É assim que se faz uma Copa?
Cada vez que se comete um ato de violência que coloca em risco a integridade de um grupo social indígena, se esfacela sua cultura, seu modo de vida, suas possibilidades de expressão. É uma porta que se fecha para o conhecimento da humanidade, como dizia Levi-Strauss. É essa a Copa do Mundo que o governo quer fazer?

Por Fernanda Sánchez*

Nesta sexta-feira[22/3], o Batalhão de Choque da Polícia Militar invadiu a Aldeia Maracanã, antigo Museu do Índio, e agiu com extraordinária truculência. Os policiais  jogaram bombas de efeito moral, gás lacrimogêneo, gás pimenta, bateram nos manifestantes e prenderam ativistas e estudantes. A Aldeia estava ocupada desde o ano de 2006 por grupos representativos de diferentes nações indígenas que, nos últimos tempos, diante do projeto de demolição do prédio (para aumentar a área de dispersão do Estádio do Maracanã, estacionamento e shopping), vinham resistindo.
As lideranças indígenas são apoiadas por diversos movimentos sociais, estudantes, pesquisadores, universidades, comitês populares, organizações nacionais e internacionais de defesa dos Direitos Humanos, redes internacionais e outras organizações da sociedade civil. A luta dos índios e o conflito estabelecido entre o governo e o movimento resultaram num importante recuo do governo, que diante da pressão social desistiu da demolição do prédio e passou a defender a sua “preservação”. A desocupação do prédio foi decretada, com hora marcada. Os índios, no entanto, continuaram a resistir, apoiados por diversas organizações.
Certamente essa posição política ensina muito mais aos cidadãos cariocas e ao mundo sobre preservação, direitos e cidades do que as violentas ações que vêm sendo mostradas nos diversos meios. Para os índios e para as organizações sociais que os apoiam, preservar o prédio vai muito além de preservar sua materialidade. A essência da preservação, neste caso como em muitos outros, está na preservação das relações sociais, usos e apropriações que lhe dão sentido e conteúdo. Seria um exemplo para o Brasil e para o mundo a preservação da Aldeia Maracanã, o reconhecimento de seu uso social e a pactuação democrática acerca da reabilitação arquitetônica do edifício.
Cada vez que se comete um ato de violência que coloca em risco a integridade de um grupo social indígena, se esfacela sua cultura, seu modo de vida, suas possibilidades de expressão. É uma porta que se fecha para o conhecimento da humanidade, como dizia Levi-Strauss. É essa a Copa do Mundo que o governo quer fazer? É esse espetáculo da violência, a lição civilizatória que o Rio de Janeiro tem para mostrar ao mundo? A política-espetáculo tem um efeito simbólico: mostrar que o avanço do projeto de cidade, rumo aos megaeventos esportivos, far-se-á a qualquer custo.
Direitos humanos, democracia e pactuação estão fora da agenda deste projeto de cidade. Os manifestantes, em absoluta condição de desigualdade frente à força policial e seu aparato de violência, lançaram mão de instrumentos bem diferentes daqueles utilizados pelo Batalhão de Choque: ocuparam o prédio para apoiar os índios, resistiram à sua desocupação e manifestaram, no espaço público, nas ruas e avenidas do entorno do complexo do Maracanã, sua reprovação e indignação frente à marcha violenta desta política.
*Fernanda Sánchez é professora da UFF e pesquisadora sobre megaeventos e as cidades.