segunda-feira, 17 de dezembro de 2012

Com participação de Anita Prestes, Expressão Popular debate livro sobre trajetória de Luiz Carlos Prestes


Autora de “Luiz Carlos Prestes: o combate por um partido revolucionário”, historiadora Anita Prestes participou de debate na Livraria Expressão Popular ao lado de Antonio Carlos Mazzeo e Milton Pinheiro 
Por Júlio Delmanto

Com presença da autora Anita Prestes, a Expressão Popular realizou, em sua livraria em São Paulo, debate de lançamento do livro Luiz Carlos Prestes: o combate por um partido revolucionário (1958-1990) no último dia 10 de dezembro. Além da historiadora e filha do ex Secretário Geral do Partido Comunista do Brasil (PCB – posteriormente rebatizado de Partido Comunista Brasileiro), compuseram a mesa Antonio Carlos Mazzeo, professor da Unesp, e Milton Pinheiro, autor de 140 anos da Comuna de Paris e estudioso da trajetória dos comunistas no Brasil.

“A grande mídia sempre distorceu e manipulou a figura de Prestes”, lembrou Anita logo no começo de sua exposição, salientando que seu pai deixa como principal legado a valorização da luta de massas na busca pela transformação social. “As novas gerações se apropriarem disso é perigoso para a ordem, que omite e deturpa sua trajetória”, reforçou, apontando a importância do trabalho do historiador para este resgate.

A historiadora, que publicou também pela Expressão Popular os livros Uma epopeia brasileira: a coluna Prestes e Luiz Carlos Prestes – patriota, revolucionário, comunista, tendo também uma série de outras obras estudando outros períodos da vida de seu pai, explicou que a periodização escolhida para este novo trabalho inicia-se em 1958 por ser um “momento de virada” na história do Partido Comunista tupiniquim, uma vez que é a data do documento conhecido como “Declaração de março”, no qual algumas das táticas do partido são revistas. Já 1990 é o ano da morte de Luiz Carlos Prestes, aos 92 anos.

Utilizando-se das palavras do historiador marxista Eric Hobsbawm, Anita ressaltou a necessidade do “compromisso com as evidências”, afirmando que nesta obra primou pelo método marxista, fugindo “do idealismo que nega a realidade objetiva”. Destacou também a importância da obra do italiano Antonio Gramsci em sua análise, antes de trafegar por alguns dos pontos principais abordados em seu livro.

Luiz Carlos Prestes ingressou no PCB nos anos 1930, e foi secretário-geral da organização por 37 anos, abandonando o cargo no momento de seu rompimento, tornado público em março de 1980 com a divulgação da “Carta aos comunistas”, na qual explicava a opção pela sua saída. O fato de ter desempenhado tal cargo, e de ser um entusiasta da disciplina partidária, não pode fazer com que as divergências de Prestes com o partido sejam apagadas da história, ressaltou Anita, que busca resgatar essas questões políticas em seu livro.

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Milton Pinheiro, que iniciou sua fala prestando homenagem ao arquiteto comunista Oscar Niemeyer, lembrou que “esse debate, em grande medida, explica a política brasileira”, e buscou fazer alguns apontamentos sobre a trajetória política de Prestes e do PCB. Em relação ao partido, destacou “a inconsistência de sua análise da realidade brasileira” e a “crença descomunal na estabilidade democrática”, abordando também a questão da revolução vista como um caminho a ser trilhado em etapas, sendo uma “democrático-burguesa” a sua primeira.

Segundo Pinheiro, “existe uma grande dificuldade de se diferenciar Luiz Carlos Prestes do Comitê Central do PCB antes de 1979, a condição de secretário-geral ofuscava essa possibilidade”. Para ele, sua saída do partido “fincou as raízes para o liquidacionismo e o caminho da conciliação de classes” no interior da organização.

Já Mazzeo expôs que o partido, entre 1922 e 1929, era “muito diferenciado”: “autônomo, inovador e com herança revolucionária muito forte”. Seria a partir do ano da famosa crise na Bolsa de Valores de Nova Iorque, com “a intervenção da Internacional Comunista”, que apareceria uma “grande dificuldade de interpretação marxista do Brasil da época”.

Ele apontou que a trajetória de Prestes, desde o movimento Tenentista, o credenciou como “uma referência mundial: ele não era qualquer coisa”, e lembrou também do “drama” e da dificuldade que ele tinha para expressar suas posições pessoais, diante das tarefas de seu cargo e do centralismo democrático vigente na organização. 


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