segunda-feira, 30 de abril de 2012

A educação e a economia

(trechos do texto originalmente publicado em Mundial, Lima, 5 jul 1925)


Por José Carlos Mariátegui


O problema da educação não pode ser bem compreendido se não for considerado como um problema econômico e social. O errro de muitos reformadores [da educação] residiu em seu método abstratamente idealista, em sua doutrina exclusivamente pedagógica. Seus projetos ignoraram a íntima engrenagem que há entre a economia e a educação e pretenderam modificar esta sem conhecer as leis daquela. Consequentemente, não conseguiram reformar nada senão na medida em que as leis econômicas e sociais permitiram.


O debate entre clássicos e modernos no ensino não esteve menos regido pelo desenvolvimento capitalista que o debate entre conservadores e liberais na política. Os programas e sistemas de educação pública dependeram dos interesses da economia burguesa. A orientação realista ou moderna, por exemplo, foi imposta, antes de tudo, pelas necessidades do industrialismo. Não sem motivo, o industrialismo é o fenômeno peculiar e substantivo desta civilização que, dominada por suas consequências, exide da escola mais técnicos que ideólogos e mais engenheiros que reitores. Quando Rabindranath Tagore, olhando a civilização capitalista com seus olhos orientais, dá-se conta de que esta fez do homem um escravo da máquina, não chega a uma conclusão exagerada.


Mas estas consequências do capitalismo geralmente não provocaram, de parte dos intelectuais, um esforço inspirado num propósito efetivo de restabelecer o equilíbrio entre o moral e o material. Os intelectuais, em sua maioria, fizeram o jogo da reação. Não souberam opor-se ao presente a não ser em nome do passado. Permeados de espírito conservador e de mentalidade aristocrática, sustentaram, direta ou indiretamente, as mesmas ideias dos herdeiros ou sucessores do regime feudal. Subscreveram  sua velha e simples receita de idealismo: os estudos clássicos.

[...]


Um conceito moderno da escola coloca na mesma categoria o trabalho manual e o trabalho intelectual. A vaidade dos humanistas rançosos, alimentada de romanismo e aristocratismo, não pode concordar com esta nivelação. Malgrado a repugnância destes homens de letras, a Escola do Trabalho é um produto genuíno, uma concepção fundamental de uma civilização criada pelo trabalho e para o trabalho.



Leia o livro Mariátegui sobre educação, organizado por Luiz Bernardo Pericás, editado pela Xamã (2007). A leitura dos textos permitirá abordar de uma maneira inteiramente original determinadas questões candentes de nosso debate educacional contemporâneo, tais como a da escola laica ou dos sentidos da democratização de oportunidades educacionais para as camadas populares.


 
 
 

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