sexta-feira, 16 de setembro de 2011

Autobiografia resgata história do militante comunista Gregório Bezerra


Por Paula Salati



“Gregório é a genuína personificação dos explorados e oprimidos da nossa terra – jamais dos poderosos, dos exploradores.” É desta maneira que a historiadora Anita Leocádia Prestes descreve o militante comunista Gregório Bezerra, na apresentação de Memórias, autobiografia de Gregório, que acaba de ser relançada pela Boitempo Editorial.



Pernambucano, Gregório Bezerra nasceu em 1900 na região de Panelas, a 180 km de Recife. Filho de pais camponeses, viveu sua infância em intensa miséria, tendo começado a trabalhar na lavoura de cana-de-açúcar aos cinco anos de idade.



Ainda criança, Gregório foi morar no Recife após a morte de seus pais e lá iniciou sua história de militância, envolvendo-se em revoltas e greves de trabalhadores. Alfabetizou-se somente aos 25 anos e, em sua trajetória, passou por perseguições, torturas e um total de 23 anos de cárcere em diferentes momentos de repressão da história do Brasil. Participou ativamente dos momentos políticos, desde as lutas antifascistas a resistência à Ditadura Militar.



Foi militante do Partido Comunista Brasileiro (PCB), pelo qual se elegeu deputado federal em 1946. Foi nesta época que Anita Prestes, filha de Luiz Carlos Prestes e Olga Benário, o conheceu, pois Gregório, assim como outros membros do partido, passou a morar na casa de Prestes.



“Ele era uma pessoa extremamente inteligente, inclusive, pelo livro, podemos ver isso. Ele escreveu sozinho e a mão este livro. Embora tenha se alfabetizado tarde, gostava muito de ler e de se informar. Mesmo na prisão e na clandestinidade, por onde ele passava, sempre procurava estudar. Apesar da origem humilde, ele tinha um repertório cultural muito grande. Era um verdadeiro revolucionário e comunista”, relembra Anita Prestes.



Gregório escreveu suas Memórias no período em que esteve no exílio em Moscou, de 1969 a 1979, após o golpe o militar de 64. Data deste período de ditadura, uma das cenas mais cruéis da repressão, onde Gregório foi arrastado com três cordas no pescoço pelas ruas do Recife.



Em Moscou, Anita reencontrou-se com Gregório, que já estava com a saúde bastante abalada, mesmo com muitos cuidados médicos que recebera na antiga URSS. Sobre a obra, Anita conta que um dos objetivos de Gregório era deixar um testemunho de sua vida. “Ele ficou muito entusiasmado em escrever suas memórias para deixá-las como legado para os jovens. E todos os companheiros o incentivavam a escrever, até porque, para ele, era duro o exílio. Ele sentia muita saudade da terra dele”, lembra a historiadora.

 
FONTE: Caros Amigos

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