quinta-feira, 4 de agosto de 2011

Grosso modo: orgulho heterossexual é coisa de fascista!

Por Marina Costin Fuser

 
A Câmara Municipal de São Paulo, nessa última terça-feira, aprovou o projeto de lei 294/2005 defendido pelo governador Carlos Apolinário (DEM) que institui o "dia do orgulho heterossexual". Tenho algumas linhas a dizer sobre isso:

 
Em sociedades heteronormativas, me parece absurdo festejar o statu quo, decaindo vergonhosamente na celebração da homofobia vigente. O mundo é atravessado por relações desiguais de poder, e o sentido da alteridade, que está na base da distribuição díspar de poderes, é construído social e historicamente. O fato de haver uma vontade de igualdade, por si só, não faz com que as barreiras de exclusão desapareçam. Seria preciso derrubá-las.

 
Lamentavelmente, quem mais se incomoda com a ideia de "minorias" são aqueles que sustentam e reforçam os preconceitos que colocam à margem da sociabilidade certos grupos sociais, com base em diversos critérios de exclusão , como classe, raça, credo, etnia, gênero e orientação sexual. O termo "minoria" não pode ser medido numericamente, mas pelo grau de exclusão. Não está satisfeito com o termo "minoria"? Invente um melhor. Por falta de palavras, fico com aquelas que estão aí. Ressignifico, retiro essa aura de um certo humanismo hipócrita que coloca tudo no mesmo balaio de gato. Não por acaso.

 
Entre os grupos favoráveis a um "orgulho branco" se figuram os Ku Klux Klan, os nazi-fascistas, os eugenistas, entre outros algozes que mandaram negros para a fogueira e campos de concentração. Desde a abolição da escravatura em 1888, ainda não resolvemos a questão racial no Brasil: os negros permanecem na base da pirâmide social e encontram barreiras quase intransponíveis à ascensão social. O machismo vigente ainda deixa em evidência os limites dessa ideia de Brasil-potência, como pivô da América Latina, onde se elege uma presidente mulher, mas os índices continuam escandalizando a opinião pública pela violência doméstica. Indígenas continuam a ser massacrados desde o Brasil colônia. Por fim, a pesar do recrudescimento de crimes homófobos na metrópole paulistana, nossos vereadores ainda têm a cara-de-pau de promover um dia de festa para comemorar a exclusão. E assim se proliferam os ovos da serpente, dando luz a novos e a velhos fascismos.

Marina Costin Fuser é socióloga.

 
FONTE: Brasil de Fato

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