segunda-feira, 15 de agosto de 2011

Educar é preparar para o mercado de trabalho

Por Marcos Cesar: Breve comentário da matéria publicada na Folha de São Paulo, em 15/8/2011, intitulada "Escola pública terá educação financeira".  De acordo com a referida matéria (que pode ser lida ao final deste texto), "os alunos do ensino médio de escolas públicas começarão a ter orientação de educação financeira", sendo que a "discussão do dinheiro será integrada ao currículo em vez de ser uma disciplina". Como diz Newton Duarte: “O objetivo não é que as pessoas se apropriem do conhecimento para utilizá-lo em processos de transformação da sociedade. O objetivo é a adaptação”. Contrariamente as suas aparências sedutoras, estas inovações educacionais fortalecem e renovam a lógica desumanizadora do capital. muitas correntes do pensamento educacional, como o construtivismo e as pedagogias similares, bastante disseminadas na educação brasileira, não enxerguem a educação, em sua relação dialética com a sociedade, como um lugar que se dá uma intensa luta pela hegemonia, um campo de disputa, velada ou aberta, entre propostas de sociedade, entre diferentes concepções de mundo, expressando a mutável correlação de forças entre as classes. De visão idealista, em sua maioria, estas pedagogias estão, propositalmente ou não, impregnadas de ideias e imagens que estão presente na ideologia dominante da sociedade contemporânea - crença na superioridade moral da democracia liberal e da economia de mercado (seria cômico se não fosse trágico). Portanto, bastante compatíveis com aquele processo de presentificação da história falado anteriormente. Isso porque estão centradas no processo de adaptação do indivíduo ao seu meio social. Em relação à incorrigível lógica do capital e seu impacto sobre a educação, István Mészáros afirma que:
Não surpreende, portanto, que mesmo as mais nobres utopias educacionais, anteriormente formuladas do ponto de vista do capital, tivessem de permanecer estritamente dentro dos limites da perpetuação do domínio do capital como modo de reprodução social metabólica. Os interesses objetivos de classe tinham de prevalecer mesmo quando os subjetivamente bem-intencionados autores dessas utopias e discursos críticos observavam claramente e criticavam as manifestações desumanas dos interesses materiais dominantes. Suas posições críticas poderiam, no limite, apenas desejar utilizar as reformas educacionais que propusessem para remediar os piores efeitos da ordem reprodutiva capitalista estabelecida sem, contudo, eliminar os seus fundamentos causais antagônicos e profundamente enraizados. (MÉSZÁROS, István. A educação para além do capital. 2 ed. São Paulo: Boitempo, 2008, p. 26.)

 

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Escola pública terá educação financeira
(Folha de São Paulo, 15 de agosto de 2011)

CIRILO JUNIOR
DO RIO

 
Os alunos do ensino médio de escolas públicas começarão a ter orientação de educação financeira.

Segundo Jaqueline Moll, da diretoria de currículos e educação integral do MEC (Ministério da Educação), a ideia não é criar uma disciplina específica e sim integrar o assunto ao currículo normal das escolas. Ela calcula, porém, que serão ao menos dez anos para consolidar o tema nas escolas.

Ainda não está definido quando e em quais locais a educação financeira começará a ser implementada.

"Queremos abordar questões como a história do dinheiro e a geografia financeira e orientar o comportamento dos alunos nesse sentido", afirmou a especialista.

O projeto é uma das primeiras iniciativas da Enef (Estratégia Nacional de Educação Financeira), criada pelo Conef (Comitê Nacional de Educação Financeira). O comitê reúne instituições como o BC (Banco Central), a CVM (Comissão de Valores Mobiliários) e o MEC.

A educação financeira nas escolas vai seguir projeto-piloto de 2010, quando foi dada orientação a 26 mil estudantes da rede pública de São Paulo, Rio de Janeiro, Tocantins, Ceará e Distrito Federal.

Apesar de o projeto ser focado em jovens, a orientação sobre como usar e aplicar de maneira mais inteligente o dinheiro não ficará restrita a essa faixa etária.

O BC prepara um plano de educação financeira para aposentados. Existem, ainda, projetos para adultos.

"A educação financeira para adultos é algo emergencial diante do fato de que 46 milhões de pessoas subiram de classe social desde 2003", comentou Altamir Lopes, diretor do BC.

Pesquisa do instituto Data popular feita em 2008 a pedido do Conef constatou que o nível de instrução financeira do brasileiro é baixo.

A avaliação mostra que, na época, 26% dos entrevistados estavam em cadastros de devedores. Desses, 58% não tinham intenção de quitar a dívida rapidamente.

Ao mesmo tempo, o acesso dos brasileiros a produtos do sistema financeiro não para de crescer.

De 2002 a 2009, o número de contas bancárias no país saltou de 55,7 milhões para para 90,7 milhões.

O uso de cartão de crédito também teve crescimento relevante. Em 2009, eram 78,2 milhões de cartões, ante 22,5 milhões em 2002.

Uma das ações do BC inclui a oferta de palestras em várias cidades, que serão transmitidas pela internet com acesso aberto mediante cadastramento.

O projeto, ainda em fase de testes, será voltado para os jovens que estão entrando no mercado de trabalho.

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