sexta-feira, 13 de agosto de 2010

MST completa 15 anos de lutas no Mato Grosso

Por Keka Werneck
Da Página do MST


A filha de Olga Benário e Luiz Carlos Prestes, Anita Prestes, confirmou presença na celebração dos 15 anos de luta por Reforma Agrária do MST no Mato Grosso.

A primeira ocupação do Movimento no Estado foi realizada em 14 de agosto de 1995, na improdutiva fazenda Aliança, em Pedra Preta, região Sul.

A atividade será realizada no Centro de Formação e Pesquisa Olga Benário, uma das conquistas do MST nesses 15 anos, entre 12 e 14 de agosto. O centro fica nos limites de Várzea Grande, na saída para Jangada (BR 364), após o Trevo do Lagarto.

Está prevista a participação de 600 pessoas de acampamentos e assentamentos do Mato Grosso, Rondônia, Goiás e outros estados, além de amigos do MST.

A escola leva o nome da mãe de Anita. O MST homenageia lutadores do povo dando seus nomes aos seus espaços conquistados. Daí os assentamentos Antônio Conselheiro, Chico Mendes e os demais.

Anita é professora aposentada da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e leciona, como apoiadora do MST, na Escola Nacional Florestan Fernandes, em Guararema (SP). Ela também representa o Instituto Luiz Carlos Prestes.

A palestra dela está marcada para o dia 14, pela manhã.

Já está confirmada também a presença do violeiro, cantor e compositor Zé Geraldo, que ficou conhecido na Música Popular Brasileira (MPB) com canções expressivas, como “Milho aos Pombos”.

Zé Geraldo, que também é apoiador do MST, fortalece a programação cultural do encontro, que termina com o Grande Baile da Reforma Agrária, dia 14, às 21h, com a participação de artistas locais.

O ato político será dia 13, às 9h.

A gestação

A memória de Vanderly Scarabeli, um dos coordenadores do MST no Mato Grosso, não falha. Numa salinha da secretaria estadual do Movimento, no bairro Alvorada, periferia de Cuiabá, ele assenta em uma cadeira, bem na direção de uma fresta de luz que ocupa o espaço entrando pela janela, e começa a contar como esta organização de luta por Reforma Agrária chegou ao estado.

Segundo ele, só 10 anos após a primeira ocupação de terra feita pelo MST no Brasil - em 1985 no Rio Grande do Sul -, o Movimento começou a se articular em Mato Grosso.

Em 1995, no 7º Encontro Nacional do MST, a plenária aprovou como encaminhamento organizar os camponeses sem-terra em MT.

Um grupo de militantes do Rio Grande do Sul, Mato Grosso do Sul e de Rondônia ficou com a tarefa de “aportar” na terra do agronegócio, da monocultura da soja e do algodão, do latifúndio e de práticas ainda muito violentas no campo e na cidade.

No dia 21 de janeiro de 1995, com uma mochila nas costas, Vanderly desembarcou à noite na rodoviária de Cuiabá para ajudar a organizar os camponeses.

“Começamos a fazer trabalho de base”, lembra ele. A equipe viajava para Jaciara, Juscimeira, São Pedro da Cipa, Rondonópolis, Pedra Preta. “A gente ia rodando a região, fazendo reuniões. Nessas nossas andanças, chegamos a passar fome, mas valeu”.

A sisma era grande. A paranóia era motivada pela pistolagem, prática muito comum em Mato Grosso e que, para matar, não precisava de muito motivo.

Primeira ocupação

Reuniões, andanças e articulações duraram sete meses. Tinha chegado a hora de ocupar a primeira área.

A ocupação foi marcada para o dia 14 de agosto de 1995. Cinco dias antes, dia 9 de agosto de 1995, aconteceu o Massacre de Corumbiara, em Rondônia, no qual morreram 12 pessoas, entre elas uma criança de nove anos e um policial.

O medo tomou conta das famílias, acostumadas com a vida na periferia das cidades ou com o silêncio rural. “Senti medo de dar errado, mas resolvemos seguir adiante”, conta Vanderly.

A mobilização era grande. Mais de 1.100 famílias iam participar da ocupação.

As famílias ficaram de 15 a 20 dias na fazenda.

Um ano depois, em agosto de 1996, foi registrado o primeiro assentamento do MST no estado.

Em 15 anos, 4 mil famílias do MST foram assentadas no estado. E cerca de mil ainda continuam acampadas.

O MST avalia que 100 mil famílias têm interesse em entrar em projetos de Reforma Agrária nos limites da terra da soja.

Desafios

Apesar dos pontos positivos conquistados em 15 anos de luta pelo MST, o latifúndio ainda reina em Mato Grosso. Em vez de expandir para o Sul, o agronegócio subiu o estado, ocupando o Norte.

A questão ambiental é também uma preocupação. Por isso, as ações do MST trazem esse tema para reflexão, uma vez que os assentados também fazem parte desse ambiente e precisam de orientação técnica, para que plantem e respeitem a natureza.

Outro desafio é fortalecer as alianças entre movimentos camponeses e urbanos. Assim ambos se protegem e resistem juntos nas pautas em comum.

O MST trabalha também para acabar com o analfabetismo no campo. Nossos lemas são: “Todo e toda Sem Terra na Escola” e “Educação do Campo: Um direito nosso e dever do Estado”. E além de alfabetizar, o campo precisa de profissionais capacitados para o campo. Por isso, os Sem Terra continuam exigindo do Estado cursos técnicos e superiores.

Por que valeu a pena:

Os 15 anos de luta do MST em MT valeram a pena por que:

1) Desconcentramos mais de 200 mil hectares de terra.

2) De 18 mil a 20 mil pessoas vivem hoje assentadas em Mato Grosso em áreas onde antes não viviam mais do que 200 pessoas.

3) De todas as escolas que existem em assentamentos do MST, 10% estão em Mato Grosso, o que denota que os assentamentos estão avançados no ponto de vista da educação. Isso é bom não só para os camponeses, mas para o país, que enfrenta altos índices de analfabetismo e ignorância no campo e na cidade.

4) Formação universitária para camponeses, historicamente ignorados por políticas de Educação Superior. A primeira turma de pedagogia se formou no MT em 1998. No dia 2 de julho deste ano, ocorreu a primeira formatura de uma turma de agronomia no estado, com ênfase em agroecologia. Os dois cursos foram uma parceria com a Unemat (Universidade do Estado do Mato Grosso) de Cáceres. Há 3 médicos filhos de assentados formados em Cuba, especialistas em educação do campo, em agroecologia e educação de Jovens e Adultos. Além disso, trabalhadores Sem Terra se formando em Direito, Técnico em Administração de Cooperativa, História e Pedagogia.

5) O que mais vale a pena é saber que o MST contribui com a sociedade brasileira, resgatando a auto-estima dos camponeses pobres, tirando muitos e muitas da marginalidade e possibilitando por meio de lutas e formação política, a dignidade que o ser humano deve ter, mostrando que é possível construir um outro mundo, uma outra sociedade, onde o centro deve ser a vida e não o lucro.

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