segunda-feira, 2 de novembro de 2009

"Integralista não corre; voa"

Sangue na praça da Sé
Há 75 anos, batalha entre antifascistas e integralistas em SP deixou seis mortos e mais de 30 feridos graves


A batalha durou mais de meia hora", datilografou o escritor Plínio Salgado. "O conflito durou seguramente uma hora", cronometrou o jornal "A Offensiva", que o próprio Plínio, chefe da AIB (Ação Integralista Brasileira), dirigia no Rio. O jornalista Mário Pedrosa ouviu de um camarada húngaro: "Foram quatro horas de ditadura do proletariado". (...)

Naquela "tarde funesta e luminosa" de 7 de outubro de 1934, como a descreveu o escritor Paulo Emílio Sales Gomes, logo se deflagraria o que se conheceria como batalha da praça da Sé: seis mortos e ao menos três dezenas de feridos graves no embate entre antifascistas e integralistas.Os integralistas representavam a extrema direita, defensora de nacionalismo renhido, família, igreja e propriedade privada. Mimetizando fascistas italianos e nazistas alemães, formavam milícias, vestiam uniforme (verde) e proclamavam saudações ("Anauê").
No porvir, negariam identidade com os europeus.
Os antifascistas agregavam uma miríade de organizações de esquerda (...): stalinistas do Partido Comunista, trotsquistas da Liga Comunista Internacionalista, socialistas, anarquistas, sindicatos e adeptos de Miguel Costa, líder de rebeliões da década de 1920.
Para aquele domingo de 75 anos atrás, a AIB marcou uma celebração pelo segundo aniversário do Manifesto Integralista. Levou 10 mil seguidores, conforme cálculos de fontes diversas, à Sé ou aos arredores.
Seus inimigos interpretaram a iniciativa como demonstração de força inspirada na marcha sobre Roma, ofensiva fascista de 1922 que impulsionou Mussolini ao poder. Mobilizaram-se para barrá-la. (...)
Abaladas pela crise econômica, as democracias liberais pareciam naufragar nos anos 1930. Demorariam a recuperar o leme da história. Os extremos alargavam influência.Em julho de 1934, Getulio Vargas, de bom convívio com os camisas verdes, se transformara em presidente constitucional eleito pelo Congresso.
Na praça da Sé, como reflexo da polarização política, tomaram partido até os membros do aparato de segurança escalados para garantir a lei.Os agentes das delegacias de ordem política e social combateram a tiros os antifascistas. Soldados da Força Pública dispararam contra integralistas. (...)
Por volta das 15h15, ecoou a primeira saraivada de tiros sobre os integralistas. Sobreveio outra. Não chegavam a mil os partidários de Plínio já na Sé.Os milicianos da AIB reagiram e descarregaram armas contra os antifascistas. Enquanto balas zuniam, o comunista Hermínio Sacchetta e o trotsquista Fúlvio Abramo, jornalistas, discursavam.Filiados à AIB fugiam e deixavam as camisas pelo caminho, temendo serem reconhecidos e agredidos. (...)
O humorista Barão de Itararé gracejou com o apelido galinhas verdes, pelo qual detratores maldiziam direitistas: "Um integralista não corre; voa".
Somando quem perdeu a vida na praça e nos dias seguintes, noticiaram-se seis mortes -dois agentes da polícia política, um guarda civil, dois integralistas e um comunista.Foi ferido o trotsquista Mário Pedrosa, no futuro um prestigioso crítico de artes plásticas e o filiado número 1 do PT. (...)
Em seu livro "A Batalha da Praça da Sé", [Eduardo] Maffei assinalou: "Barramos o caminho ao fascismo no seu aspecto mais sanguinário". Os integralistas reencontraram os antifascistas em novas manifestações, até serem postos -como os oponentes haviam sido- na ilegalidade, em 1937.
Fonte: trechos da reportagem de Mário Magalhães. Folha de São Paulo, 01 de novembro de 2009.
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